quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Setembro & Pedro Almodóvar: O quadro-síntese

Chegados ao fim de Setembro, temos o prazer de anunciar o término da iniciativa Setembro & Pedro Almodóvar que durante todo o mês homenageou o realizador e argumentista espanhol. Mais uma vez os agradecimentos vão para todos os que seguiram o ciclo de críticas e homenagens no Split Screen, seeSAWseen, CINEROAD e Flavio's World. Fica abaixo o quadro-síntese em que todos os participantes desta iniciativa classificaram os filmes de Pedro Almodóvar.



Foram classificados 15 filmes diferentes do realizador, de onde resultaram mais de 30 críticas ao longo dos quatro blogues envolvidos.

O Split Screen recebeu ainda 91 votos no inquérito «Para si, qual é o melhor filme de Pedro Almodóvar?».

Foi uma votação bastante renhida. O filme que reuniu mais votos foi Hable con ella (2002), com 23% dos votos, vencedor do Óscar de Melhor Argumento Original e uma nomeação na categoria de Melhor Realizador.

No segundo lugar temos Todo sobre mi madre (1999) que foi votado por 21% dos inquiridos como o melhor filme do cineasta espanhol. O filme venceu o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.

E por fim, o terceiro lugar coube a Volver (2006), com 20% dos votos. Penélope Cruz foi nomeada para o Óscar de Melhor Actriz por este filme.

Obrigado mais uma vez a todos!


Estreias de 01 Outubro'09: The Burning Plain, Fame, Welcome, The Damned United, G-Force e Lesbian Vampire Killers

A partir de amanhã, dia 01 de Outubro, nas salas de cinema do país, pode contar com as seguintes estreias:

Destaques:

Longe da Terra Queimada (Burning Plain)

Ano: 2008
Realização: Guillermo Arriaga
Argumento: Guillermo Arriaga
Género: Drama
Elenco: Charlize Theron, Kim Basinger e Joaquim de Almeida

Quatro histórias conturbadas de três gerações: dois adolescentes mexicanos, Mariana (Jennifer Lawrence) e Santiago (JD Pardo), encontram o amor na trágica morte dos pais; Maria (Tessa La), uma menina sem mãe, vê a sua vida transformar-se para sempre no dia em que o pai sofre um acidente de viação; Sylvia (Charlize Theron), uma mulher perseguida pelo passado, procura a remissão de antigos pecados; e, finalmente, Nick (Joaquim de Almeida) e Gina (Kim Basinger), um casal cujo amor interdito é o ponto de partida de tudo o resto. Um drama escrito e realizado pelo mexicano Guillermo Arriaga, colaborador e argumentista de Alejandro González Iñárritu em "Babel" e "21 Gramas".

Outras sugestões:

Fama (Fame)

Ano: 2009
Género: Musical

Um musical sobre o talento, dedicação e espírito de sacrifício de vários alunos de uma escola de artes de Nova Iorque (a New York City High School for the Performing Arts), movidos pelo desejo de fazer carreira no mundo do espectáculo. Histórias de amizade, amor e competição seguindo o percurso individual enquanto artistas e seres humanos em direcção à tão desejada fama. Realizado pelo jovem Kevin Tancharoen, que foi dançarino e, mais tarde, coreógrafo da tour de Britney Spears, é um "remake" actualizado do filme "Fama", realizado em 1980 por Alan Parker. O elenco inclui a professora de dança do filme original, a actriz Debbie Allen, agora no papel de reitora.

Welcome - Bem-Vindo (Welcome)

Ano: 2009
Género: Drama

Bilial (Firat Ayverdi) tem apenas 17 anos, mas já uma longa história para contar. Depois de uma demorada e tortuosa jornada de três meses desde Mossul (Iraque), é detido em Calais, no lado francês do Canal da Mancha, ficando impossibilitado de terminar a viagem até Inglaterra. Em Londres, espera-o Mina (Derya Ayverdi), a namorada, que emigrou do Iraque com a família há algum tempo. Determinado a voltar a vê-la, Bilial inscreve-se nas piscinas locais com um objectivo: treinar intensivamente para atravessar, a nado, o Canal da Mancha. É então que conhece Simon (Vicent Lindon), o instrutor de natação, perdido na vida após a separação da mulher. Bilial e Simon tornam-se assim cúmplices num plano perigoso e ilegal que irá pôr em causa muitas das coisas em que sempre acreditaram...

Maldito United (Damned United)

Ano: 2009
Realização: Tom Hooper
Argumento: Peter Morgan e David Peace
Género: Drama

Inglaterra, 1973. Os históricos 44 dias em que Brian Clough (Michael Sheen), considerado um dos maiores treinadores ingleses de todos os tempos, liderou o Leeds United. Don Revie (Colm Meaney), que ao longo de anos levou a equipa de futebol a uma espiral de sucessos que culminou na Liga dos Campeões, abandona o cargo para assumir o lugar de seleccionador nacional da equipa inglesa. Dias depois, para surpresa de todos, o arrogante e politicamente incorrecto Brian Clough é contratado para o lugar. Criticando tudo o que o antigo técnico conseguira até então, começa do zero uma nova relação com os jogadores e com os adeptos do Leeds United. Mas o péssimo arranque de época - apenas uma vitória em seis jogos - viria a determinar o seu afastamento em tempo recorde. O filme é baseado no livro "The Damned United" de David Peasse sobre a vida de Brian Clough, falecido em 2004, aos 69 anos.

Força G (G-Force)

Ano: 2009
Género: Animação

Aventura a 3D sobre a Força-G, programa governamental norte-americano para formação de espiões de quatro patas. Na Força-G, estão as cobaias Darwin (voz de Sam Rockwell), que lidera a equipa com coragem, disposto a tudo para provar o que vale; Blaster (Tracy Morgan), perito em munições e obcecado por experiências radicais; Juarez (Penélope Cruz), uma muito sexy entendida em artes marciais; a ociosa Hurley (Jon Favreau), que não suporta injustiças; a toupeira Speckles (Nicolas Cage), dotada de grande discernimento e inteligência, e o hamster Bucky (Steve Buscemi), que se esforça por ultrapassar os seus graves problemas territoriais. Munidos de tecnologia de ponta e um treino intensivo, estes heróis vão descobrir que o mundo está sob o domínio de um milionário diabólico. Agora está nas suas mãos (perdão, patas) a salvação de todos. A segunda longa de Hoyt Yeatman é uma produção de Jerry Bruckheimer (um nome associado a filmes como "Armageddon", "Fortaleza Voadora" ou "O Rochedo" e a séries como CSI e Sem Rasto).


Caçadores de Vampiras Lésbicas (Lesbian Vampire Killers)

Ano: 2009
Realização: Phil Claydon
Argumento: Paul Hupfield e Stewart Williams
Género: Thriller

Fletch (James Corden) e Jimmy (Mathew Horne) são dois amigos de mal com a vida que decidem passar um fim-de-semana acampados numa remota cidade do interior de Inglaterra. Aí dão de caras com uma estranha lenda que aterroriza a população local: aparentemente, todas as mulheres transformam-se em vampiras lésbicas no dia do seu 18.º aniversário. Depois de serem apanhados pelas aterradoras criaturas do além, e sem alternativa possível, os amigos juntam forças com o padre da terra e tornam-se nos temíveis caçadores de vampiras lésbicas. A sua missão: salvar as belas jovens do terrível destino que as espera.

FlashForward - o legado de LOST

Estreou na passada 5ª feira a série FlashForward, a grande aposta da ABC para esta temporada, que é já considerada por muitos como o primeiro herdeiro do legado deixado por LOST. A premissa é simples: o mundo inteiro perde a consciência durante cerca de 2 minutos e, durante esse tempo, a grande maioria das pessoas presencia um momento do seu futuro passados 6 meses.

No entanto, as comparações são inevitáveis: tendo o nome desta série (que na realidade é o título do livro que a inspirou, mas é também um termo muito familiar para os espectadores de LOST) sido apenas a primeira chamada de atenção. A segunda foi bastante explícita, com a ABC empenhada em promover a série como vindo "da cadeia que nos trouxe LOST":



O casting de FlashForward trouxe-nos também várias caras familiares de LOST, incluindo não só actores bastante populares como Sonya Walger e Dominic Monaghan, mas também a actriz convidada Kim Dickens, que não escapará aos fãs mais atentos nas próximas semanas. Tendo em conta toda a promoção dirigida à audiência de LOST, as expectativas criadas foram bastante altas.

No More Good Days

Na realidade, o primeiro episódio de FlashForward não desiludiu e soube tomar a medida certa da fórmula de LOST: utilizar um determinado evento como motivação para as acções e emoções dos seus personagens, ao contrário de muitas séries de ficção científica centradas na sua própria mitologia que remetem a densidade dos personagens para segundo plano. O flashforward (nome dado ao evento que levou as pessoas a conhecerem o seu próprio futuro) induz diferentes reacções em diferentes personagens: alguns desejarão que esse futuro realmente aconteça, outros tentarão a todo o custo evitá-lo.

É a partir deste evento que é desenvolvida toda a temática da série: será que por terem visto o futuro, as pessoas serão capazes de o alterar, ou terão já o seu destino traçado? O principal exemplo é o caso de Bryce, que descobre no momento em que planeia o suicídio que afinal estará vivo no futuro — estará ele vivo no futuro apenas porque soube que iria estar vivo?

Apesar de alguns exageros a nível dos efeitos digitais (haveria assim tantos prédios em chamas se todas as pessoas desmaiassem durante 2 minutos? Incluindo o Big Ben?), a fotografia é bastante boa e reflecte bem a percepção dos personagens retratados: Bryce é brevemente envolvido em tons dourados, até ao momento em que se apercebe do caos que o rodeia, voltando então os tons frios a dominar a cena.

O desenrolar da acção é também comparável à estrutura de LOST, embora os personagens nos sejam dados a conhecer ainda antes do evento que muda as suas vidas — aqui, a pergunta que se impõe é: o que é que cada pessoa viu? Para responder a esta pergunta, é criada uma rede social onde cada pessoa poderá partilhar a sua experiência, conhecida como "The Mosaic". E é desta premissa que surge o primeiro website oficial, ao estilo dos que os fãs de LOST têm seguido durante os últimos 4 anos, que poderão visitar aqui.

Marketing viral

Talvez por decisão da cadeia de televisão, é atirada à cara de todos os espectadores uma referência a LOST: Um cartaz da empresa fictícia Oceanic Airlines perfeitamente enquadrado numa cena em que nada acontece. Reparem, na foto em baixo, como o cartaz deveria estar desfocado para estar em conformidade com os restantes elementos da cena colocados à mesma distância. Já existem teorias sobre como os universos das duas séries possam coincidir mas, neste momento, não parece passar de uma tentativa de auto-promoção.

Uma série não estaria a seguir devidamente o legado de LOST se não tivesse a sua dose de empresas e organizações fictícias: neste caso, a Red Panda Resources. A forma como o seguinte cartaz nos é apresentado é a principal indicação de que o cartaz da Oceanic foi colocado durante a fase de pós-produção: este encontra-se bastante bem integrado na cena, passando muito facilmente por um cartaz genérico:

Curiosamente, o que me levou a reparar na imagem foi precisamente o slogan "Better Tomorrow...." (só depois notei as reticências com 4 pontos que, certamente, terão algum significado). Este slogan, no entanto, é muito semelhante ao utilizado na primeira campanha de marketing viral utilizada em LOST: a Hanso Foundation - "Reaching out to a better tomorrow". Com esta chamada de atenção, não pude deixar de ficar atento a aparições desta organização.

Na sua visão, Mark (Joseph Fiennes) tenta descobrir os responsáveis pelo flashforward que afectou o mundo inteiro. No seu painel, de entre várias pistas que Mark irá encontrar ao longo da investigação, podemos observar precisamente uma referência à Red Panda Resources, indicando assim que este poderá ser um nome importante em episódios futuros.

Ainda à semelhança de LOST, são criados também websites "independentes" que se manifestam contra organizações referidas na série. O primeiro exemplo é o site Truth Hack, onde um novo personagem se manifesta em relação à Mosaic Collective.

O veredicto

Apesar de todas as semelhanças com a série LOST, a estreia de FlashForward conseguiu estabelecer com sucesso a sua própria mitologia. Estão lançadas as bases para um enredo envolvente e com uma boa dose de mistério, sendo bastante focado nas personagens retratadas e os dilemas que a experiência do flashforward lhes causou. Apesar do primeiro episódio ter como título "No More Good Days", a série mostrou bastante potencial e até cativou um número bastante positivo de audiências para a ABC.

A estreia de FlashForward é vivamente recomendada a todos os apreciadores de mistério e/ou ficção científica, sendo particularmente apelativa aos espectadores de LOST.

Fala com ela, por Carlos Antunes



Título original: Hable con ella
Realização: Pedro Almodóvar
Argumento: Pedro Almodóvar
Elenco: Javier Cámara, Darío Grandinetti, Leonor Watling, Rosario Flores, Mariola Fuentes e Geraldine Chaplin

São os elementos atípicos que Almodóvar convoca para o seu melodrama que tornam Hable con ella um filme tão hipnótico, tão inesquecível embora tão aparentemente estranho.
O seu poder poético deriva a forma como os elementos que poderiam aparecer desfasados no clássico melodrama lhe dão um tom único, pessoalíssimo e inovador.

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Este filme de Almodóvar convoca todo o tempo os elementos que dão colorido ao seu universo. As suas actrizes, as suas fixações, os seus prazeres, os seus amigos.
Mas a estranheza do que isto possa trazer não reduz a emoção pura com que o filme nos consegue tocar.

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Por isso é que Hable con ella fascinou tanto e tão completamente aqueles que o viram.
Porque tudo ali é tão novo e tão inebriante, mas tão puro na forma como trata da essência do Cinema.
A evocação do movimento - da dança ainda para mais -, do cinema mudo - numa obra dentro da obra que é uma maravilha por si mesma - e da música - partilhada, dada a uma assistência de reacções distintas - são tudo evocações do próprio Cinema, das suas pequenas maravilhas, das suas nuances.

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Ao lado dessa poesia do próprio cinema vem a história de amores singulares, amores dependentes e conturbados na sua aparente placidez.
Amores que estão para lá das aparentes restrições morais do seu tempo, mesmo que façam sentido apenas aos olhos de quem o constroi na sua mente.

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Mais do que os amores, é a amizade de dois homens, de dois homens que se conseguirão relacionar pela coincidência da sua necessidade de sobrevivência.
Estão ambos subjugados a mulheres com quem não conseguem verdadeiramente relacionar-se - por motivos distintos, claro - mas por quem esperam.
Ambos aceitaram viver por extensão da vida dessas mulheres, um apoiando o talento de uma, outro cuidando-lhe das funções mais primárias por ela.
Será preciso que um se sacrifique pelo outro para que ambos consigam viver - ou dar significado à sua vida.

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A magnífica combinação de todos estes elementos, perfeita, dão a este melodrama um tom próprio, não só de Almodóvar mas da própria Espanha.
Melodrama de sabor único e vincado, por isso mesmo tão admirado. A perfeita lapidação do melhor de Almodóvar.





Leonardo DiCaprio em The Deep Blue Goodbye



A 20th Century Fox produzirá a adaptação cinematográfica de The Deep Blue Goodbye, uma série de 21 livros de mistério, do autor John D. MacDonald.

A Variety já anunciou que Leonardo DiCaprio será o protagonista da longa-metragem. A produtora do actor, a Appian Way, estará responsável pelo filme, pelas mãos de Peter Chernin e Jennifer Davisson Killoran. O argumento do filme ficará a cargo de Dana Stevens (City of Angels).

No livro, Travis McGee, é um detective veterano que mora numa casa flutuante – conquistada num jogo de póquer – e que só trabalha quando precisa de dinheiro, recuperando bens que foram roubados de outras pessoas. The Deep Blue Goodbye deve estrear em 2010.

Primeira imagem de Mel Gibson em The Beaver

The Beaver, realizado por Jodie Foster e protagonizado por Mel Gibson, viu divulgadas algumas fotografias do set de filmagens. A novidade é que, pela primeira vez, vemos o castor que deu nome ao filme.



O argumento será da autoria da estreante Kyle Killen e narra a história de um homem depressivo que encontra consolo no fantoche de um castor. The Beaver estreia em 2011.

Abraços Desfeitos, por Tiago Ramos

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Título original:
Los abrazos rotos (2009)
Realização: Pedro Almodóvar
Argumento: Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope Cruz, Lluís Homar, Blanca Portillo e José Luis Gómez

Na derradeira cena de Los Abrazos Rotos, Harry Caine diz que um realizador deve terminar os seus filmes, mesmo que seja às cegas. De certa forma temos aqui traçado o perfil biográfico de Pedro Almodóvar que surge no filme pelas mãos de um cineasta cego e que dá a entender a dificuldade que foi colocar este filme a público.



Em face do arraso da crítica generalizada, tenho a dizer em sua defesa: Abraços Desfeitos não é o desastre que por aí se fala. Pedro Almodóvar cria um filme muito difícil de definir, num registo já habitual de melodrama exacerbado, com uma visão irónica e cínica da sociedade, mas sobretudo uma, muito bonita, homenagem ao Cinema e inclusive ao seu Cinema. Consciente da sua personalidade enquanto ícone do cinema espanhol, Pedro Almodóvar cria um autêntico, divertido e consciente jogo de auto-citações e referências (veja-se o filme dentro do filme que dá mote ao projecto, que não é mais que uma reconstituição de Mujeres al borde de um ataque de nervios).

Abraços Desfeitos não desmerece o nome do cineasta associado ao projecto. De estilo bastante clássico, o argumento assenta num triângulo amoroso, com uma narrativa a dois tempos (1994 e 2008). É um argumento arrebatador que peca apenas por, em alguns instantes, ter dificuldade em segurar a narrativa de forma consistente nos seus flashbacks. Mas tirando isso, é um melodrama sentido e emocionado, uma história de amor nos seus trâmites mais clássicos e trágicos.



Almodóvar tem aqui um filme emocionante, romântico e intenso sobre o Cinema, a Escrita e o Amor. É um reencontro com a redenção e com a paz interior: uma longa viagem. Mas o maior primor de toda a obra é a sua composição fotográfica. Pedro Almodóvar e Rodrigo Prieto fizeram um trabalho maravilhoso juntos, garantido o melhor trabalho fotográfico de um filme do realizador. Rodrigo Prieto, responsável pela fotografia dos filmes de Iñarritu, Brokeback Mountain (2005) ou Alexander (2004), estuda planos maravilhosos que apelam ao sentimentalismo do espectador. Um enorme rigor estético, onde pop art (muito bem retratada no poster) e um estilo impressionista imperam juntos, dando origem a cenas repletas de cor e sentimentos.

Penélope Cruz está mais madura, mais humilde na forma como aceita ser dirigida, completamente cameleónica e fascinante em cada frame e momento da história. Lluís Homar é mais comedido no seu desempenho, mas de forma competente entra na personagem que tenta exorcizar os fantasmas do passado, reavivado pela morte da personagem de José Luis Gómez.



Em Abraços Desfeitos vivemos uma suave amargura, um frescor visual, um melodrama intenso que faz deste filme uma obra bastante interessante e fascinante.

Classificação:





terça-feira, 29 de setembro de 2009

A DVDteca Ideal :: As Escolhas de Miguel Lourenço Pereira [CINEMA]



O jornalista e crítico de cinema, antigo colaborador no jornal Público e autor do livro Cine Guia 2008, Miguel Lourenço Pereira aceitou ser convidado do Split Screen. O autor do blogue CINEMA diz-nos quais os DVDs essenciais na colecção de um cinéfilo.

O meu fetiche pessoal há largos anos. Apesar de não ser tecnicamente perfeito e cair em algumas sequências para o melodramatismo, é o exemplo perfeito do cinema da idade de ouro de Hollywood confeccionado por um dos seus maiores mestres, Frank Capra. Acho que todos temos um pouco de George Bailey.



2. Vertigo (1958)
A obra prima por excelência do cinema norte-americano. Suspense, emoção, ritmo, inovações técnicas, banda-sonora hipnotizante e um desempenho assombroso do James Stewart são mais do que razões suficientes.





O humor de Wilder é delicioso em vários dos seus filmes mas nenhum atinge o nível de génio de Some Like it Hot. Um filme simplesmente delicioso com um ritmo alucinante.




4. The Searchers (1956)
Uma delicia as sequências de Monument Valley com John Wayne lá ao longe como cavaleiro solitário. O testamento perfeito para uma vida inesquecível de Ford.





5. The Lord of the Rings (2001-2003)
A mais espantosa trilogia da história do cinema. A única que consegue fazer com que cada filme seja superior ao antecessor, uma adaptação assombrosa, onde técnica e conteudo se fundem de forma assombrosa.





6. The Godfather (1972-1974 - 1990)
A caixa de The Godfather é quase tão boa como os próprios filmes. Da trilogia destacar o notável Al Pacino, particularmente no segundo filme, e o ritmo pausado e hipnotizante impresso por Coppolla com uma banda sonora inesquecível.




Sob o tórrido sol das arábias um filme apaixonante com Peter O´Toole no papel da sua vida como o destemido T.E. Lawrence. Maurice Jarre compôs uma banda sonora única que se adapta com uma luva aos cenários elegidos a dedo por David Lean na grande obra-prima da década de 60.




O ritmo tranquilo e sereno de Clint Eastwood dá a esta fábula de tons negros um toque de classe que nenhum cineasta hoje em dia consegue imprimir. Obra magistral entre outros dois filmes gigantescos (Mystic River e Gran Torino), é um dos filmes da década.




A primeira meia hora alucinante e todo o surrounding bélico à volta desta aventura tipicamente americana dão ao filme de Spielberg uma aura única. Um dos mais completos filmes de guerra da história e uma óptima aposta para uma longa tarde de chuva.




10. The Dark Knight (2008)
Quase sempre menosprezado, o cinema de acção é fundamental é qualquer dvdteca para aqueles dias onde só um filme com a força de TDK é capaz de arrancar qualquer um da monotonia. Excelente trabalho técnico e de interpretação e um dos filmes mais marcantes dos últimos anos.

Arte em Antichrist

Antichrist será, com toda a certeza, o filme mais polémico de Lars von Trier, o que pela sua filmografia anterior parece de facto complicado. Mas a verdade é que tem despertado bastante interesse e dada oportunidade para muitos darem largas à sua imaginação. Agora foi o designer David D'Andrea que criou um poster propositadamente para o Fantastic Fest '09.



Este é provavelmente um dos melhores posters de sempre de um filme. "Nature is Satan's church" diz o cartaz. Enquanto isso esperamos por 22 de Outubro de 2009, quando Antichrist será exibido em Portugal.

Pedro Almodóvar & As Mulheres

Se há figura proeminente na filmografia de Pedro Almodóvar ela é a Mulher. É com ela que se sente mais à vontade, que domina os seus filmes, que integra uma relação simbiótica com o seu argumento, que domina toda a cena, que é uma força por si só.

Para o realizador e argumentista, se as mulheres existem foi para serem tornadas filme. Para serem exploradas em múltiplas perspectivas e olhares camaleónicos. Almodóvar sente-se melhor na pele da mulher, uma espécie de relação cerebral e física, sem a componente sexual, é um consumo próprio, é uma fusão quase perfeita.

E como tal, Pedro Almodóvar tem, ao longo de toda a sua filmografia as suas chicas, as suas mulheres-fetiche. Quem são elas?

Carmen Maura, Julieta Serrano, Rossy de Palma, Cecilia Roth, Marisa Paredes e Penélope Cruz são as principais. As que impulsionam as histórias do cineasta. São elas que fazem o Cinema de Almodóvar: impetuosas, garridas, camaleónicas, fortes, dominadoras, humanas e complexas. São elas que tornam o Cinema de Almodóvar completo e é também o seu Cinema que as torna maiores. As mulheres de Almodóvar são mais mulheres nas suas mãos.

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Carmen Maura


Rossy de Palma (ao centro)


Julieta Serrano


Marisa Paredes


Cecilia Roth


Penélope Cruz