sábado, 4 de junho de 2011

Machete, por Carlos Antunes


Título original: Machete
Realização: Ethan Maniquis e Robert Rodriguez
Argumento:
Robert Rodriguez e Álvaro Rodríguez
Elenco: Danny Trejo, Robert De Niro, Jessica Alba, Steven Seagal, Michelle Rodriguez e Lindsay Lohan
Editora: Sony Pictures Home Entertainment

A frase-chave de Machete, que preencheu os trailers, We didn't cross the border. The border crossed us!, é dita por Jessica Alba como discurso de motivação mas soa ao I don't read the script. The script reads me. de Kirk Lazarus em Tropic Thunder (sem a ironia intencional que faz a boa comédia).
Deveria ser uma crítica nada velada à política americana nas relações passadas e presentes com a fronteira do México. Deveria ter um significado no momento em que é dita e deveria levar Machete para caminhos mais importantes do que o género de filme que é prometeria.
Só que Machete consegue reduzir ao ridículo tal frase. Isto porque Machete consegue reduzir-se ao ridículo.
Já muito longe do conceito real de mexploitation (do qual o, de facto, mexicano Guillermo del Toro dá uma breve visão na segunda parte da sua trilogia A Estirpe), sem identidade definida para tal ou sequer traços de real cultura do país adoptivo de Rodriguez, não tem nada de digno. Já por mais do que uma vez escrevi que a reciclagem de mau material não pode dar origem a um bom filme, pelo menos se pensado como réplica descontextualizada e desfasada da realidade do cinema actual.
Mesmo os cultistas do exploitation terão de admitir que não basta evocar um espírito de identificação cinéfila para justificar um filme actual recheado de maus diálogos, de cenas incoerentes e de uma realização incapaz.
O estímulo de apreciação de tais características pode fazer sentido numa defesa saudosista de filmes cuja exigência - do público como dos produtores - era pouca e de onde, mesmo assim, escapavam detalhes interessantes.
Aqui o sentimento é de decadência de ideias que se tentam valer de uma sucessão de presenças de "estrelas" - mortiças ou mesmo apagadas, talvez seja este o único ponto de verdadeiro espírito exploitation nesta obra - cujo esforço não chega a criar a ironia pretendida e vai retirando dignidade aos intérpretes (mais grave para Robert De Niro do que para Lindsay Lohan, obviamente).
A minha sentença é a de que Machete é idiota do início ao fim e um severo desperdício de tempo e recursos. Já a minha pergunta sobre onde andará e como será visto este filme em 25 ou 50 anos terá de aguardar uma resposta (mas não acho que esta lhe venha a ser positiva).




Extras
Cenas cortadas que mostram uma linha narrativa paralela ainda mais inútil e (sexualmente) exagerada do que as restantes do filme e a possibilidade de ver o filme com a Faixa de reacção do público que não é mais do que um conjunto de assobios, aplausos e gargalhadas que fazem lembrar uma sessão da tarde do Fantasporto (conveniente para um mau filme assim).


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