sábado, 25 de junho de 2011

Real Desatino, por Carlos Antunes


Título original: Your Highness

Verdade que entrei na sala com expectativas. Era o novo filme do realizador de Alta Pedrada e com largo protagonismo (também como argumentista) para Danny McBride, criador de uma das mais brilhantes personagens de comédia televisiva dos últimos anos (falo de Kenny Powers, claro).
Saí de lá profundamente arrependido e sentindo-me mais idiota do que alguma vez esperaria.
Admitindo a necessidade de uma narrativa básica de aventura de capa e espada que nos leve de uma piada solta a seguinte e que os actores, temos de olhar para o humor e avaliar o filme com base nele.
Até porque os actores, tirando o próprio Danny McBride que deveria ser um cómico eficaz, estão aqui a fazer uma figurinhas para encher a cena. Todos eles servem, com mais ou menos dignidade, o humor de outra pessoa.
Ora, esse humor é aquilo que só se pode classificar como um falhanço tremendo e embaraçante.
O abuso do conteúdo sexual é permanente mas nunca subtil. Esta comédia está tomada pela voragem de levar o conteúdo ao limite - o mesmo que se passou com o mais recente capítulo de The Hangover, embora por um meio diferente - e com ele a reacção do público. Mas a ideia de que o público já só se ri do exagero escatológico já circulou antes pelo cinema e continua a não vingar.
A via para esse exagero é sexual, mas o conteúdo não é só fraco no que toca às punchlines, é primário no olhar sobre o mundo altamente sexualizado.
Olhar que transforma a camaradagem masculina em sugestões homossexuais grosseiras (e potencialmente homofóbicas) e que consegue reproduzir a um nível de lixo as teorias mais inconsequentes sobre drogas e pedofilia que alguma vez foram proferidas sobre a obra e vida de Lewis Carroll.
Ofensivo? Profundamente. Divertido? Nem um pouco.
Facilmente este poderia ter sido um pequeno (leia-se inconsequente mas agradável) filme de aventuras bem humorado à conta de um innuendo sexual discreto mas inteligente. Em vez disso parece a ideia de comédia que têm dois adolescentes ganzados sentados no sofá a rirem-se dos disparates mútuos.
E garanto-vos que essa ideia está para lá da adjectivação de "bronca, estúpida e alarve".

2 comentários: