segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Uivo, por Carlos Antunes


Título original: Howl
Realização: Rob Epstein e Jeffrey Friedman
Argumento: Rob Epstein e Jeffrey Friedman
Elenco: James Franco, Todd Rotondi, Jon Prescott, Jon Hamm, Aaron Tveit e Andrew Rogers

Três partes bem distintas constituem Howl, cada uma delas com um género, um estilo e um objectivo próprios.
Por mais interessantes que essas partes sejam, não se fundem, mas baralham-se mutuamente, cada uma delas enfraquecendo as intenções e as qualidades das partes alheias.
Os segmentos de animação são os mais curiosos mas, infelizmente, os mais fracos do conjunto.
Tentando dar uma vida visual às palavras de Allen Ginsberg, acabam essas animações por se tornarem meras ilustrações que não conseguem fazer uma interpretação própria dos sentidos que o poema continha.
Esses segmentos são ainda mais infelizes porque a qualidade de animação é insuficiente e não faz jus - ou sequer combina - com a estética e o ritmo do poema.
Já a recriação do julgamento a que o poema (e o seu editor) foi submetido sob a acusação de obscenidade tem o valor histórico de mostrar o grau de receio e de limitada mentalidade que a sociedade americana tinha por aqueles dias, bem como a força da arte apesar das considerações pessoais - e morais, portanto - das pessoas que a julgam sem olharem para o contexto mais abrangente do que é dito e porquê e não somente como.
O problema é que a conversa de tribunal é sempre tratada com pouco ritmo e, às vezes, até parece ter pouco esclarecimento no que respeita ao papel do advogado de defesa (um apagado Jon Hamm) em contrariar os discursos tendenciosos que se ouvem das testemunhas - embora isso possa ser culpa da realidade e não da interpretação cinematográfica da mesma.
Só no momento do discurso final do juíz, com Bob Balaban a dar voz à típica forma de resolução democrática do cinema de Hollywood, é que se sente uma elevação daquele cenário.
A parte que falta - e que dá alguma alma ao filme - é a composição de Ginsberg por conta de James Franco. Uma composição excepcional, não por uma mera aproximação à "personagem real" do poeta, mas porque ele transmite uma sensação de apropriação e vivência da poesia criada pela figura a que dá corpo.
Comparando a leitura que Franco faz do poema com a animação do mesmo, não pode haver dúvidas de que é na voz do actor que o poema está vivo. E que, nessa mesma voz, reverbera a tocante beleza e a surpreendente importância que o poema teve naquela época.
Só esta parte subsiste na memória apreciativa do público e não é possível agregá-lo com os restantes num sentido uníssono para o que se viu.
Pelo contrário, tem-se sempre a sensação de que se está a ver a qualidade de interpretação de James Franco interrompida pela vontade de mostrar elementos em demasia no filme.
Talvez o filme fosse a oportunidade de mostrar talentos a um público pouco tentado pela temática aqui em jogo, mas James Franco não merecia que o filme nos deixasse com a sensação de que ele é o seu chamariz tanto quanto é uma das suas peças essenciais.

 

1 comentário:

  1. Uivo: 3*

    A história é interessante, mas o filme é muito monótono. Também dou só 3*.

    Cumprimentos, Frederico Daniel.

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