domingo, 23 de outubro de 2011

Os Encantos do 6º Andar, por Carlos Antunes


Título original: Les femmes du 6ème étage
Realização: Philippe Le Guay
Argumento: Philippe Le Guay e Jérôme Tonnerre
Elenco: Fabrice Luchini, Sandrine Kiberlain e Natalia Verbeke

No São Jorge este filme teve direito a uma sessão completamente cheia, capaz mesmo de superar as dedicadas a The Artist,com espectadores sentados já na escada.
Sinal claro de que há público para uma sensibilidade cómica francesa que construa e cuide das suas personagens. Por oposição, certamente, à produção massiva americana com meros modelos violentados na sua dignidade por um humor que nem sempre prima pela inteligência.
Confirmou-se que se tratava de um filme terno e alegre sem preocupações de discurso crítico, capaz de arrancar prolongadas gagalhadas. Não admira, por isso, que seja o primeiro filme da Festa a ter estreia comercial.
O estado de espírito que o filme inspira vem da sua genealogia. Ele não evoca os mais caústicos tratamentos que o cinema francês fez da relação entre a classe trabalhadora e a burguesia, mas está antes mais perto da mensagem redentora sobre a vida que também trazia Mary Poppins - para ter um exemplo onde se cruzam também um homem demasiado focado no seu trabalho como financeiro e uma empregada pouco convencional.
Não há magia neste caso mas antes um certo colorido - não exagerado - que as mulheres espanholas trazem para uma França empertigada. Mesmo se elas mantém esse aspecto da sua personalidade só entre elas até que chegue a mais exuberante Maria que afecta até o seu patrão, Jean-Louis.
Só que não são tantos as empregadas as protagonistas do filme, mesmo se Carmen Maura e Lola Dueñas são deliciosas como é seu hábito e Natalia Verbeke seja uma interessante surpresa.
Fabrice Luchini é a verdadeira figura central do filme, a sua metamorfose surpreendente para os que o rodeiam e nem sempre evidente para ele mesmo é a grande história do filme.
As empregadas espanholas acabam por ser as figuras representativas de uma ideia, de que mesmo sofrendo no quotidiano laboral têm a possibilidade de encher as suas vidas com uma dose de alegria mais sincera do que a dos restantes, sobretudo se a vivem em comunidade. A ideia que Luchini terá de aprender.
O mesmo que se pode dizer da mulher de Jean-Louis, interpretada por mais uma belíssima actriz, Sandrine Kiberlain, que parece um estereótipo ao serviço da transformação do marido mas que também não escapará a aprender algo para si própria.
Mas é com estas mulheres todas que o filme mostra a sua sensibilidade carinhosa para com as personagens, enriquecendo-as com detalhes que lhes dão substância e valorizam o trabalho das actrizes.
O filme não as deixa cair, sabe que sem elas não existe o homem que está em foco e, no final, todas elas viveram perante o público na sala.
Não é de admirar, pois, que tantos tenham acorrido a esta comédia francesa, tão diferente que ela é das que costumam cá chegar.



Sem comentários:

Enviar um comentário