terça-feira, 27 de março de 2012

Un cuento chino, por Tiago Ramos



Título original: Un cuento chino (2011)
Realização: Sebastián Borensztein

O sucesso que Un cuento chino fez internacionalmente é compreensível, mas pessoalmente pouco aceitável. A temática tem pouco de original, o choque de culturas e a convivência forçada, que já foi abordada e com melhores resultados, por exemplo no caso de The Visitor (2007). Nada contra neste ponto, até porque esta película argentina tem um ponto a seu favor: a comunicação, entre as duas personagens principais que dão o mote a toda esta situação caricata, é basicamente inexistente. Isto potenciaria uma interessante narrativa em torno deste choque cultural, mas pouco desse interesse se traduz em qualidade do produto. Mesmo seguindo um tom cómico e ligeiro, que seria de aproveitar de forma a distanciar o filme de outros do género, o esforço em tentar sê-lo é demasiado evidente,  soando muito menos divertido e simpático do que queria parecer. Especialmente porque a nível estrutural, Un cuento chino assemelha-se a uma tentativa (falhada) de consolidar várias características do cinema do também argentino Juan José Campanella com outras das comédias norte-americanas clichés.

Sebastián Borensztein falha assim em criar uma identidade própria, criando também um argumento falho e, o mais grave, exageradamente estereotipado especialmente na figura do chinês e na sua relação com o argentino. Cria-se aqui uma clara diferenciação de nacionalidades, com tendência à "negativização" de uma outra (e não só de uma personagem como muitos parecem fazer crer). Muitos dos gags aqui criados soa demasiadas vezes excessivos e até xenófobos. E mesmo se tendermos a desconsiderar este (importante) ponto, falha no restante: existe uma história medíocre - mas potencialmente interessante - que encerra com um arco dramático ainda mais desnecessário, contrariando a lógica que vinha assumindo e encetando a narrativa com uma ligação forçada ao seu início.

A Un cuento chino vale-lhe o enorme talento de Ricardo Darín e mais uma das suas brilhantes composições. Uma personagem minuciosamente bem interpretada pelo actor argentino e que o continua a confirmar como um dos grandes talentos actuais. Pena que o restante filme não faça jus às suas enormes capacidades.


Classificação:
 

2 comentários:

  1. Respeitando a tua opinião, até gostei do filme! Apesar de ser um argumento já visto, o facto de não ser americano ajuda a que seja ligeiramente diferente. 
    Sinceramente, gostei. 

    No que diz respeito a Ricardo Darín, inteiramente de acordo! Já o tinha visto em El secreto de sus ojos e Nueve reinas, e sou fã. Já tenho mais alguns filmes seus para ver... PS: Tenho de ver The Visitor.

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  2. Eu de facto, o que me irritou mais não foi só o facto de ser algo já visto, foi especialmente por achar que existe muita xenofobia e racismo naquele argumento. Sinceramente não gostei.

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