terça-feira, 8 de maio de 2012

Il n'y a pas de rapport sexuel, por Tiago Ramos



Título original: Il n'y a pas de rapport sexuel (2011)
Realização: Raphaël Siboni


Podemos optar pela frontalidade e francamente desejar que houvesse tomates para fazer mais filmes assim. Não que este filme seja uma grande obra do ponto de vista formal ou do conteúdo, mas é tão despudorado quanto cru, algo cada vez mais raro numa altura em que os filmes são cada vez mais cheios de artifícios que, em muitos dos casos, desviam do espectador o essencial: o seu conteúdo. Feito através da utilização de milhares de horas de making of de filmes pornográficos, Il n'y a pas de rapport sexuel obedece a uma interessante desconstrução de uma indústria envolta num universo que é tão ou mais fantasioso que poderíamos imaginar. Daí que essa desconstrução, captada pelo famoso artista plástico Raphaël Siboni enquanto segue o realizador de filmes de pornográficos francês HPG, começa logo pelo título que traduzido transmite um irónico "não há relação sexual". Uma referência ao psicanalista Jacques Lacan que dizia «não há rapport, razão, relação sexual». Ou seja, que o prazer é algo mais mental que carnal.

Formalmente, Il n'y a pas de rapport sexuel não é mais que uma sucessão de imagens de sexo explícito, entre penetrações duplas, sexo anal ou oral, sexo em grupo ou fetiches de meninas de claque. No seu conteúdo é também pouco mais que isto, mas é na realidade essa forma descomplexada e sem grandes ambições que faz deste documentário algo interessante do ponto de vista da desconstrução do sexo e da indústria pornográfica e mesmo que o espectador não consiga evitar não ficar excitado com algumas cenas - somos humanos, portanto - acabamos por entrar mais numa visão mecânica do sexo ou melhor, da ilusão do sexo. Equilibrado com aquilo que são quase mugshots de actores pornográficos a mostrarem a sua identificação acabamos por entrar numa visão despretensiosa e por vezes cómica daquilo que é a ilusão e a realidade. Os corpos são meros objectos, longe do fetichismo que poderiam ilustrar, captadas por aquela câmara quase sempre inflexível, representativos da ilusão. Não é um grande filme, mas é tão despudorado e franco que é quase impossível não ficarmos surpreendidos com essa frescura.



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