sábado, 16 de junho de 2012

Apanha-me esse Gringo, por Carlos Antunes


Título original: Get the Gringo
Realização: Adrian Grunberg
Elenco: Mel Gibson, Peter Stormare e Dean Norris

Desta vez temos a sorte em ver passar pelas salas um filme que não passou senão em video on demand no seu país de origem.
Get the Gringo é um daqueles filmes imperfeitos de que se gosta com surpreendente facilidade. Talvez porque as imperfeições lhe acrescentam personalidade.
Em jeito de "férias bem passadas" ao estilo de um pequeno criminoso cheio de recursos, o filme foca o processo de concretização do seu grande golpe e da constituição de uma família. Tudo a partir do momento em que ele é capturado no México com os dois milhõesde dólares que roubou e enviado para uma prisão que é quase uma cidade independente.
Lá dentro ele vai achando processos para ascender na hierarquia interna sem ter de ser demasiado impiedoso, até que revelará o seu bom coração para com um miúdo que é mantido debaixo de olho pelo líder mafioso local por ser a fonte do futuro fégado de que ele precisa.
No processo do que Driver conseguirá é inevitável olhar para as convenientes implausabilidades, sobretudo as que fazem com que os roubos que ele comete contra a máfia da prisão acabem por ter poucas repercussões até ao momento em que ele as provoca em favor de mais algum plano.
Ou no final do filme, em que ele tão facilmente e com tanto sucesso dá resposta a todos os seus desejos individuais contrariando os dos restantes peões da trama, convence-nos apenas de de um certo facilitismo do argumentista (apesar de ter feito Driver atravessar duas vezes a fronteira, explodir com o andar de topo de uma torre de escritórios e reentrar na prisão mexicana para salvar o miúdo).
Tudo isto passa ao largo do prazer de vermos Mel Gibson a submeter-se a comédia física algo limitada e a salvá-la acrescentando-lhe os seus melhores truques do tempo de Lethal Weapon.
O actor lança-se a todas as cenas sem medo da vergonha que estas lhe possam causar no futuro. Prova que poderia ainda ser uma estrela e sustentar filmes por conta própria dando-se, ainda assim, à ironia contra si mesmo.
Não é um filme que exija muito dele como actor, mas vendo-o à luz de escolhas (possíveis...) recentes valoriza a versatilidade e o talento que tem.
Pode não valer por mais nada - a realização é funcional mas os tiroteios deixam ver o quanto é o filme é "farsolas", apesar do nome do actor principal - mas entusiasma.
É um filme com o mesmo efeito que The Matador teve aqui há uns anos e, não por acaso, também aí estava uma estrela em potencial a "arrasar-se" para renascer como actor. E Pierce Brosnan livrar-se de Bond ou Mel Gibson livrar-se das polémicas pessoais são tarefas igualmente difíceis.
Não haverá por aí mais bons actores a precisarem de expor imperfeições? O público agradecia!


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