sábado, 9 de junho de 2012

Assim Assim, por Carlos Antunes


Título original: Assim Assim
Realização: Sérgio Graciano
Argumento: Pedro Lopes
Elenco: Ivo Canelas, Nuno Lopes, Rita Blanco, Joaquim Horta, Cleia Almeida, Albano Jerónimo, João Arrais, Gonçalo Waddington, Miguel Guilherme, Joana Santos, Dinarte Branco, Isabel Abreu, Tomás Alves, Margarida Carpinteiro e Ana Brandão

Não vi a curta-metragem que se expandiu para esta longa, mas não é difícil deduzir como foi feita a passagem de uma a outra.
Se não me engano é a primeira cena - um bloco único de 20 minutos passado na Rua Garrett - a forma original desta ficção, uma versão de serendipidade para a cidade de Lisboa e onde os diálogos servem de adereços quando o dinheiro não chega.
A longa-metragem trabalha esse sentimento de acaso fechando o círculo dos casais apaixonados, fazendo aparecer as "caras metades" dos protagonistas que apenas tinham tido oportunidade de falar sobre as suas relações.
A elas vai acrescentando outras vidas que se movem nos mesmos espaços, cruzando-se tenuamente com as primeiras e, em definitivo, as mais substanciais para uma eventual narrativa.
Todas as pequenas histórias em torno de uma suposta reflexão - que começa bem humorada e termina demasiado séria - tornam-se num problema. São lastro sem propósito, ocupando o volume que Pedro Lopes não sabia preencher num arco narrativo de poucos mais que quatro personagens e levando ao fundo as hipóteses do filme ter algo significativo a dizer.
Várias são as cenas despropositadas que surgem sem desaguarem noutra parte do filme. Umas são desvios cómicos - as cenas de Margarida Carpinteiro e Miguel Guilherme - e outras tentativas de passar uma mensagem de profundidade - curiosamente, entre essas, lembram-se as protagonizadas por Cleia Almeida e  Rita Blanco.
Mesmo sendo cenas que pertenciam a filmes diferentes - outras curtas-metragens, que o escritor não mostra fôlego para escrever algo mais sólido em formato longo - revelam algo sobre o seu autor que lhe deveria merecer atenção no futuro.
No campo da comédia Pedro Lopes revela talento, fazendo do boneco da velha queixosa na consulta médica a mais hilariante do filme (embora lhe falte saber deixar os espaços em branco para o público rir) e aproveitando a eficácia minimalista do humor representado com as expressões faciais por Miguel Guilherme.
No campo oposto o ridículo instala-se em diálogos maniqueísta que versam contra o racismo (e como este se propaga no discurso dos que se mostram irredutíveis contra ele) ou o estado actual das vendas de literatura portuguesa.
Esta forma que ele escolheu de escrever o argumento, saltando entre personagens, temas e género, esboroa qualquer hipótese de unificação que as pequenas conexões escritas pudessem gerar. Estes não são episódios de uma história de uma certa geração que vive a noite de Lisboa, são sketches de vida curta e significância limitada.
Fica apenas a possibilidade de apreciar a qualidade individual das rábulas, que estão dependentes dos actores que dentro delas se movem. Nesse campo há trabalhos cujo mérito se reconhece (Nuno Lopes e Isabel Abreu, além dos dois citados pela positiva anteriormente) mas a revelação de um demérito do realizador.
Sérgio Graciano despojou a realização - também por falta de dinheiro - para dar o destaque aos diálogos e aos seus intérpretes. Mas não parece ter sido capaz de os dirigir devidamente. Muitas cenas vogam ao sabor de um misto de talento inato e inevitável falhanço dos actores.
Estas são peças finais de um puzzle que não enche a tela do cinema. Se resultará noutro ambiente ou formato é uma pergunta que poderá valer a pena tentar responder.


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