sexta-feira, 14 de setembro de 2012

7 Dias em Havana, por Tiago Ramos


Título original: 7 días en La Habana (2012)
Um dos maiores problemas encontrados nas antologias de curtas-metragens centradas num único tema é a dificuldade em reunir cineastas de níveis idênticos e criar obras suficientemente boas individualmente, mas que criem coesão. Essa é simultaneamente tanto a fraqueza como a virtude deste 7 Dias em Havana. Ao mesmo tempo que cria um postal próprio de uma cidade como Havana, mas consciente que seria praticamente fugir ao contexto sócio-político em que está inserido, mantém uma identidade visual que, mesmo não sendo particularmente homogénea, é bastante competente. A vantagem em estarmos perante um objecto do género é sobretudo a facilidade com que o espectador pode viajar de história em história sem se aborrecer particularmente, dada a multiplicidade de temas. Funcionando maioritariamente como histórias individuais, só no final é que algumas das narrativas apresentadas se começam a unir, muito por conta de personagens recorrentes. No fundo é um mosaico de personagens, numa aproximação muito própria aos indivíduos e não tanto ao contexto colectivo (um erro fácil em que poderia ter caído) que, mesmo repleto de lugares-comuns, fá-lo com bastante bom humor e algum sentimento.

Claro que há curtas-metragens que se destacam largamente de outros: Diary of a Beginner, a quinta-feira de Elia Suleiman, é talvez o melhor, com o seu surrealismo exacerbado e ele próprio à cabeça, como figura irónica e quase anedótica. Mas temos ainda um bastante bom Gaspar Noé, com uma competência fílmica brilhante, numa sexta-feira com direito a rituais vudu (embora Ritual seja talvez o trabalho mais deslocado da antologia); uma Jam Session pelas mãos do argentino Pablo Trapero, talvez a história mais humana da antologia, com Emir Kusturica a fazer de si mesmo ou um Benício Del Toro que, com a aproximação ao cinema e a utilização de um protagonista juvenil, recria uma Havana noctura mais próxima dos clichés, mas também da modernidade. Os dois episódios finais estabelecem a ligação a algumas das outras curtas-metragens, Dulce Amargo e La Fuente, valorizando a união da comunidade, de uma forma tão irónica quanto sensível, porém com nuances bem distintas. Temos o maior défice em termos narrativos, na quarta-feira de Júlio Medem, uma La Tentácion de Cecilia, tão melodramática e exagerada nos seus maneirismos que deita por terra parte da frescura que o filme tinha conseguido manter.

Embora desigual, 7 Dias em Havana é um interessante composto cinematográfico, rico em multiculturalismo e em personagens, se não tanto em concepção final, rico em ideias. É sobretudo um filme sensível e simpático que merece uma oportunidade.


Classificação:

2 comentários:

  1. Excelente crítica. Gosto muito desse filme...

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  2. Lindo filme! Dá para conhecer um pouco da charmosa Havana e perceber as diferenças de comportamento entre estrangeiros e cubanos. Tem uma crítica em www.artigosdecinema.blogspot.com/2013/11/7-dias-em-havana-7-dias-en-la-habana.html

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