quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Estreias 1 Novembro'12: Cesare Deve Morire, Lawless, Butter, The Words, Shut up and Play the Hits, A Moral Conjugal e Paranormal Activity 4

Dia 1 de Novembro, pode contar com as seguintes estreias numa sala de cinema perto de si:

Destaques:

  César Deve Morrer (Cesare Deve Morire)
Ano: 2012
Género: Drama
Na prisão de segurança máxima de Rebibbia, Roma, um grupo de prisioneiros encena a peça "Júlio César", de William Shakespeare. Pelos corredores, fala-se de morte, liberdade, vingança. Realidades presentes no texto shakespeariano, mas também nas suas próprias histórias. Dirigido pelos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, o filme venceu o Urso de Ouro no Festival de Berlim 2012.
Outras sugestões:

  Dos Homens Sem Lei (Lawless)
Ano: 2012
Realização: John Hillcoat
Argumento: Nick Cave
Género: Drama, Western
Elenco: Tom Hardy, Shia LaBeouf, Guy Pearce, Jessica Chastain, Jason Clarke, Mia Wasikowska e Gary Oldman
A história dos infames irmãos Broadabent, contrabandistas de bebidas alcoólicas no estado da Virgínia durante os tempos da Lei Seca nos Estados Unidos. As origens familiares, a relação fraternal e uma lealdade constantemente posta à prova.

  Manteiga (Butter)
Ano: 2011
Realização: Jim Field Smith
Argumento: Jason A. Micallef
Género: Comédia
Laura Pickler (Jennifer Garner) vive à sombra do sucesso do marido Bob (Ty Burrell), campeão de esculturas de manteiga do Iowa. Até que ele é levado a abandonar a competição. Decidida a manter na sua casa o troféu das melhores esculturas de manteiga, Laura ingressa na prova. Mas pela frente tem adversários à altura: Destiny, uma menina de 10 anos (Yara Shahidi); Brooke (Olivia Wilde), uma stripper e pretendente a amante de Bob; e a sua fã número 1, Carol-Ann (Kristen Schaal). Não restará então outra hipótese a Laura: pedir ajuda ao seu ex-namorado, o pouco inteligente Boyd (Hugh Jackman).

As Palavras (The Words)
Ano: 2012
Realização: Brian Klugman e Lee Sternthal
Género: Drama, Romance
A fama chega quando o jovem Rory Jansen publica um romance que depressa atinge o estatuto de best-seller. O problema é que não é ele o autor das palavras que compõem o bem-sucedido livro. E a verdade persegui-lo-á à medida que acumula um prestígio que não lhe é devido. Um filme que marca a estreia de Brian Klugman e Lee Sternthal, argumentistas de "Tron: O Legado", atrás das câmaras.

  Shut up and Play the Hits - O Fim dos LCD Soundsystem
Ano: 2012
Realização: Will Lovelace e Dylan Southern
Género: Documentário
O último concerto dos LCD Soundsystem, a 2 de Abril de 2011 em Madison Square, que durou quatro horas e que incluiu participações de Arcade Fire ou Reggie Watts, num documento que pretende traçar também o retrato íntimo de James Murphy e sublinhar todas as consequências da sua decisão em terminar com a banda.
A Moral Conjugal (A Moral Conjugal)
Ano: 2012
Realização: Artur Serra Araújo
Argumento: Artur Serra Araújo
Género: Drama, Comédia
Manuela é uma sensual delegada de propaganda médica, constantemente envolvida em fugazes casos com os médicos com quem trabalha. Até que as suas acções escapam ao seu controlo e, entre mentiras, vê-se numa luta desesperada por evitar as consequências conjugais.

Actividade Paranormal 4 (Paranormal Activity 4)
Ano: 2012
Realização: Henry Joost e Ariel Schulman
Argumento: Christopher Landon
Género: Drama, Comédia
Há cinco anos, Katie (Kathie Featherston) matou a irmã Kristi (Sprague Grayden) e o cunhado Daniel (Brian Boland), levando consigo o sobrinho. Agora, ela vive com o pequeno Robbie (Brady Allen). Do outro lado da rua, mora a adolescente Alice (Kathryn Newton) que não consegue deixar de observar a estranheza de Robbie. E quando o rapaz começa a arrastar o irmão mais novo de Alice para outro universo, o terror regressa.
Sinopses: Cinecartaz Público

Aux bains de la reine, por Carlos Antunes


Título original: Aux bains de la reine
Realização: Maya Kosa e Sérgio da Costa
Argumento: Maya Kosa e Sérgio da Costa

Na exploração das pegadas já para lá dos campos limítrofes do documentário o DocLisboa premiou um cruzamento de documento pedagógico com ficção psicanalítica.
Ficção apenas porque é escrita e interpretada embora na sua essência seja uma rememoriação dos tempos de infância num lugar para o qual Elsa voltou também para descobrir um espaço que conhece cada vez menos, ainda que lá tenha nascido.
As Caldas Da Rainha tornam-se local de pequenos teatros como sonhos adultos montados sobre o entendimento de criança.
São teatros a evocar uma recuperação de um espaço a que Elsa pertence e de que se foi perdendo; que se fazem acompanhar da observação dos que ali permanecem desde sempre, plantados à sombra das árvores que também só ali existirão.
O espaço agora estranho é apreendido através de um roteiro orientado cheio de guias que explicam as histórias do local.
Da lenda de Dona Leonor às questões técnicas do Hospital Termal, tudo é narrado no seio do quotidiano como se fosse uma realidade guardada aos habitantes mas por eles relatada a todos para s (re)conquistar para o seu pequeno paraíso.
Nessa inserção da extemporaneidade que rompe com a vulgar observação, os realizadores conquistam alguns dos seus momentos mais interessantes, criando um sentido de acolhedor absurdo como se a narrativa da lenda local fizesse realmente parte dos anúncios dos horários das camionetas.
Um acolhimento total que reforça no visitante - Elsa e o espectador - o sentimento de estranheza mas acaba por lhe proporcionar um sentimento de pertença.
O que os realizadores melhor assumem a partir dessa forma aumentada da realidade é o inevitável humor assaz irónico, traduzido primeiro em risos inibidos do público até que o desconforto (perante o género do filme, sobretudo) deixe de servir de controlo às gargalhadas.
O humor desse olhar acaba por confortar o espectador que vê naquele mundo antiquado e regulado motivo real de algum gozo. Mas é a presença da individualidade de Elsa que leva o espectador a comprometer-se com o que está a ver, tornado o gozo em regozijo.
O público dá por si muitas vezes a olhar para Elsa a olhar para os locais que mudaram porque mudou o seu olhar.
O efeito - dádiva, talvez - maior do filme para com o público é o de tornar um elemento equiparado à emigrante que reolha para as Caldas da Raínha e com ela descobre os mistérios enclausurados mas depois abertos a todos.


terça-feira, 30 de outubro de 2012

Walt Disney Co. adquire estúdios LucasFilm por 4 mil milhões; novo Star Wars poderá estrear em 2015



A Walt Disney Co. adquiriu os estúdios LucasFilm, pertencentes a George Lucas, pelo valor de 4 mil milhões de dólares (o mesmo que gastou na compra da Marvel há uns anos). O acordo coloca agora as marcas Disney, ABC, ESPN, Pixar e Marvel sobre o seu controlo dos estúdios.

O The Hollywood Reporter indica que Kathleen Kennedy, actual vice-presidente da LucasFilm assumirá a cadeira da presidência. Notícias indicam ainda que o estúdio estará a preparar um novo filme do franchise Star Wars (o sétimo capítulo), a estrear já em 2015.

Actualização: O sétimo filme, será seguido por um oitavo e nono filme (com intervalos entre dois a três anos entre si), completando a série de nove filmes do franchise que George Lucas referiu há uns anos. George Lucas será consultor criativo da Disney.

Quarta temporada de "Community" deverá estrear a 7 de Fevereiro de 2013


Depois de ter sido adiada a sua estreia por tempo indefinido, parece que a quarta temporada de estreia de Community deverá estrear no canal NBC a 7 de Fevereiro de 2013. A informação veio do Twitter oficial da actriz Yvette Nicole Brown (a série era para estrear a 19 de Outubro):



Esta dica chega depois de hoje ter existido uma série de informações contraditórias acerca da estreia da nova temporada da série. O canal canadiano CityTV ter referido a data de 9 de Novembro para depois corrigir para 11 de Janeiro. Horas depois o canal voltou a rectificar a informação, dando a indicação que a data de regresso não tinha, afinal, sido definida no país.

NBC altera formato de "Up All Night"


Numa jogada invulgar, o canal NBC decidiu modificar a série Up All Night, tornando-a mais barata a nível de produção, transformando-a de uma comédia single-camera para uma sitcom multi-camera. Embora até ao episódio onze da segunda temporada, a série mantenha o formato actual, o canal forçará uma pausa de três meses para modificá-la.

Assim, a partir do episódio doze, a estrear em Abril ou Maio de 2013, a série passará a ser filmada em estúdio, com três ou quatro câmaras e a presença de público. Esta mudança deverá reduzir os custos de produção, bem como melhorar a dinâmica da série inserindo-lhe mais energia (tal como o produtor executivo Lorne Michaels desejava). Como compensação, a segunda temporada de Up All Night recebeu a encomenda de novos episódios, totalizando dezasseis, a fim de dar ao público tempo para se habituar à alteração.

As únicas séries conhecidas que sofreram uma mudança semelhante foram Happy Days e Barney Miller. Além desta mudança de formato, a segunda temporada de Up All Night tem sofrido também alterações a nível criativo, ao focar a narrativa na rotina do casal (Christina Applegate e Will Arnett) e menos em Ava (Maya Rudolph).

AMC renova "Hell on Wheels" para uma terceira temporada


O canal AMC renovou a série Hell on Wheels para uma nova temporada. A série é um western pós-Guerra Civil americana, que segue um ex-soldado confederado que passa a trabalhar para a Union Pacific Railroad (que construiu uma das primeiras vias transcontinentais americanas), em busca de vingança pessoal.

A segunda temporada de Hell on Wheels foi vista por cerca de 2,35 milhões de espectadores. A terceira temporada da série, composta por dez episódios, estreará em 2013.

Three Sisters, por Carlos Antunes


Título original: San zimei
Realização: Bing Wang

A China discutida pelo mundo fora pela sua imposição económica é apenas uma referência longínqua na região onde permanece Ying Ying (à esquerda na imagem acima), a verdadeira protagonista do filme (que escolhe mal o seu título, apesar das relações que este convoca relativamente aos temas da peça de Tchékhov).
Essa China, império macro-económico cujo voraz impacto não pode ser travado, surge apenas como a ideia de uma vida melhor, referenciada referenciada como a cidade de onde o pai das três crianças surge apenas para voltar a partir com as mais novas (de forma a que não vivam sem uma figura parental - Ying Ying permanece com o avô).
A cidade é também o local de onde o pai regressa mais uma vez, perto do final, incapaz de se sustentar e acompanhado, curiosamente, por mais duas vidas.
Essa China poderosa está decidida a esquecer estas regiões que nunca conseguirão elevar-se aos patamares pretendidos para a imagem internacional do país e, em parte, os habitantes destas regiões estão decididos a serem esquecidos, em grande parte por causa das crianças que abundam aqui contra as regras restritivas do número de filhos.
Mas essa China não se importa de perpetuar os mesmos métodos impostos às regiões que não conhecem nem o capitalismo nem a modernidade, tornando as crianças em trabalhadores equiparados a quaisquer outros.
Ying Ying vive uma infância a que quase não se pode dar esse nome. Se faz os trabalhos de casa e lança-lhe com desprezo um "Outra vez a estudar?" e logo tem ela de ir tratar das cabras e ovelhas - e aqui o filme rima, tristemente, com Dusty Night no momento em que um pai diz ao filho que lhe basta ler umas linhas e que tem de aprender um ofício e não pode continuar a estudar.
O resto do tempo, quase sem excepção, o seu papel é o de senhora da casa. Ou, já com as irmãs longe, a de trabalhadora "no duro".
Ela, os primos e as restantes crianças da aldeia passam muito do seu tempo enchendo cestos com estrume e carregando-os às costas.
Só pelo meio dessa dureza roubam algum tempo para serem livres, para brincarem como crianças que mal se lembram que são num cenário extraordinário mas que se apaga aos olhos do público perante as condições miseráveis em que vivem.
Há um desalento emocional perante os piolhos que constantemente Ying Ying tem de catar às irmãs, pela sujidade permanente a que quase ninguém reage - fica a dúvida se é verdade que não tomavam banho desde que o pai partira - e pela maneira como vivem sem barreiras entre o humano e o animal, a tal ponto que o gado parece viver naquilo que é apenas mais uma divisão da casa.
Mesmo assim pelo meio de tão grande opressão há momentos de ternura entre irmãs que demonstram que um toque de inocência ainda foi salvaguardada e evitam a sensação de agonia.
Crê-se que é difícil que possa suceder num mundo em que a comida é contada e em que o afecto parece ter sido substituído pela utilidade do ser.
Por uma vez Ying Ying retira um pouco mais de comida para si e logo é censurada e obrigada a dividi-as com as irmãs. Assim que é deixada a cargo do seu avô é-lhe dito que não se dirija mais à tia para comer.
A solidão de Ying Ying vem da maneira como é enviada para se tornar útil e compensar aquilo que come. A maturidade que nela se constata vem da falta de alternativas. E de um abandono ocorrido numa idade crucial.
Só as irmãs a impediam de tombar na indiferença mas, depois de levadas, nada lhe resta de proveitoso e havemos de descobrir que a menina que nos parecia cuidadosa e doce no início se tornou violenta e ameaçadora para algumas das outras crianças.
Poderíamos chamar melancolia à maneira como ela observa em silêncio o horizonte ou a família, mas é inevitável crer que se trata já de um rompimento com o enlace humano que poderia vir a sentir.
Basta ver como em duas horas e meia de material nem por uma vez alguém reconhece a presença da câmara - excepção feita a um condutor de autocarro que quer cobrar o bilhete - assim deixando perceber que um observador de corpo presente já nada significa para quem nunca possa ter adquirido a consciência dos limites de exposição, de distanciamento e de pudor.
Digamos que, por aí, o documentário ganha a título de veracidade e de quantidade de informação. E com tal hipótese de capturar sem perturbações a realidade, mostra-se inclemente com o público assim levado a sentir ao máximo tanto a claustrofóbica vivência com os outros como a cansativa existência a solo.
Bing Wang, com a sua opção pelo digital, conseguiu conquistar o espaço para experimentar com essa transmissão por via de um plano subjectivo engajado com necessidade de não deixar o controlo governamental apagar a memória da parte da China que não foi levada em direcção ao progresso - ou, pelo menos, em direcção à dignidade humana.
Será para vincar bem na mente de quem vai ver que o realizador se permitiu levar algumas cenas ao ponto da fadiga em vez de ter tentado sublinhar pequenos eventos.
O cansaço que o filme acaba por causar obriga verdadeiramente a um investimento físico do público. E essa exigência deixa uma marca inabalável que um filme mais cómodo falharia em transmitir.
O filme termina e resta a pergunta "O que faremos com o que agora sabemos?". A resposta não é fácil, mas chegar à pergunta foi já essencial, como ver este filme o é neste momento da História.


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Dusty Night, por Carlos Antunes


Título original: Dusty Night
Realização: Ali Hazara
Argumento: Ali Hazara

Não estamos perante uma noite mas perante "A" noite do pó. Perpétua e inclemente, um estado de existência que não é apenas daqueles homens que a cada 24 horas retiram o (mesmo) pó da estrada.
Retiram, o que ali não significa mais do que desviar o pó temporariamente. Desviá-lo para cima de outros, como o merceeiro que se queixa de que sem pó já ninguém compra a fruta, quanto mais assim...
E a resposta daqueles trabalhadores resume aquilo a que as circunstâncias os reduziram: a guerra destruiu-lhes as quintas e só por isso se sujeitam àquele trabalho.
Um trabalho inventado para os ter ocupados - Silenciados? Manietados? Uma escravidão que já não recebe esse nome, trabalho que se associa aos trabalhos forçados de prisioneiros. Horas e quilómetros a fio, respirando o pó que deveria desaparecer para, no final, conseguir comprar um pão.
Tudo por culpa da corrupção, instalada e sem expectativa de desaparecimento, num Afeganistão de provinciana mentalidade.
A estrada invadiu o espaço que era dos homens e que estes reocupam, com poucos cuidados, para um jogo de futebol.
Se a estrada já é demasiado pequena para todos os carros que agora lá passam, quanto mais com aqueles homens ali atravessados. Mas isso é o sintoma do país ali resumido, demasiado pequeno - estreito até mentalmente visto que os Taliban destroem os camiões de gasolina que deveriam servir o país - para o progresso que invade o espaço de quem só entende o pedaço de terra que era seu e agora está perdido.
A força do filme vem da sua transmissão desta ideia pela observação mais do que por discursos acrescentados às imagens (que os há).
Como aquela aparelhagem que debita música moderna de uma casa na berma que por pouco não faz as vezes de discoteca. O sinal absurdo do moderno que cresce a propósito daquela estrada que tem de ser limpa com vassoura de palha.
São essas imagens que transmitem, em tão breve duração, a eternidade do movimento de limpeza condenado ao falhanço.
Cada conjunto de faróis que interrompe o avanço cego das vassouras é um lampejo de memória daqueles homens que não podem dar aos filhos um futuro melhor. Apenas fazem o que fazem para não se deixarem morrer.
Embora a expressão "ao pó regressaremos" possa já ser para eles uma condenação em vida.
A eloquência destes vinte minutos, que passam quase sem se dar por isso, cria uma real consciência do Afeganistão tal como foi legado a quem já lá vivia e de como este se prepara mal para o futuro. E, por acréscimo inevitável, obriga-nos à comparação com os remendos correntes do país empurrado para a modernidade das auto-estradas direccionadas à Europa.


A Moral Conjugal, por Tiago Ramos


Título original: A Moral Conjugal (2011)
Realização: Artur Serra Araújo
Argumento: Artur Serra Araújo
Elenco: José Wallenstein, Catarina WallensteinSão José Correia, Maria João Bastos e Dinarte Branco

Estreado no Fantasporto 2012, A Moral Conjugal é um curioso objecto inserido no actual cinema português. Detentor de um estilo de linguagem (tanto a nível narrativo, como estético) mais ligeiro do que habitualmente temos oportunidade de ver no raro lote de filmes nacionais que chegam às salas de cinema, tem um premissa divertida e simpática. Não que isso lhe valha por si só, já que não é isento de problemas maiores - esses mesmo que o impedem de ser um objecto mais consistente do que é na realidade. O primeiro impasse com que facilmente nos deparamos tem que ver com as suas intenções. Veja-se a sua cena inicial num tom aparentemente sério, com diálogos e interpretações forçadas, a tender para ridículo (especialmente evidente nas interacções entre a personagem de Dinarte Branco e as de Maria João Bastos e São José Correia). A inusitada e quase bizarra situação coloca-nos na dúvida se parte da intenção da acção será propositada ou não, colocando a dúvida sobre o que estamos a ver. Será um drama inevitavelmente tão bizarro que tende para uma indesejada comédia ou esse tom é propositadamente criado para nos preparar para a sequência de humor negro que surge na segunda parte da trama?

O espectador fica com dúvidas durante grande parte da narrativa, o que o impede de se relacionar tanto com as personagens como com a acção. Felizmente, na segunda metade, a narrativa ganha um rumo interessante que acaba por se expor como uma comédia inusitada com um elevado teor de humor negro (já evidente na sua primeira longa-metragem Suicídio Encomendado). Centrando a trama na dependência emocional, o filme acaba por desenvolver as personagens para aquilo que se torna numa comédia de vingança, que nunca seria possível sem a interacção entre os actores São José Correia, José Wallenstein e Catarina Wallenstein que tomam as rédeas da acção e a encaminham para o tom mais correcto e que deveria ter existido desde o primeiro minuto.

Se esse tom de comédia negra acaba por ser bem aproveitada na sua fase final, não deixa de ser verdade também que essa história deveria ser acompanhada por uma realização e fotografia diferentes, que se apresenta com enquadramentos totalmente desinspirados e demasiado fechados numa visão restrita e que condiciona o espectador. Não há porém porque não destacar A Moral Conjugal com um simpático, inusitado e divertido filme com uma visão invulgar e marginal ao habitual estereótipo do cinema português.


Classificação:

Poster e primeiro trailer de "Operação Outono", sobre o assassinato do General Humberto Delgado


Foi hoje revelado o primeiro trailer do filme Operação Outono, a mais recente longa-metragem do português Bruno de Almeida (The Lovebirds), um thriller político sobre a operação que levou ao assassinato de Humberto Delgado pela PIDE em Fevereiro de 1965.


O filme inspira-se em factos verídicos, alguns dos quais recentemente descobertos pelo biógrafo e neto do próprio General Humberto Delgado, e no seu livro "Humberto Delgado, biografia do general sem Medo", que defende que este terá sido morto não por um tiro, mas espancado até à morte por agentes da PIDE. A acção decorre entre Portugal, Espanha, Algéria, Marrocos, França e Itália, entre 1964 e 1981, desde a preparação da operação da PIDE (cujo nome de código era Operação Outono) até ao caso do Tribunal, já pós-25 de Abril.

Operação Outono conta com o norte-americano John Ventimiglia (The Sopranos) no papel de Humberto Delgado, escolhido pela preferência do realizador e pela sua parecença física com o General. Os seus diálogos serão dobrados em português. Ao actor juntam-se Marcelo Urgeghe, Renata Batista, João d'Ávila, Nuno Lopes, Carlos Santos, Pedro Efe, Ana Padrão, Cleia Almeida, Camané e Carla Chambel, entre outros.

Operação Outono estreia em Portugal a 22 de Novembro e será exibido também em formato minissérie na RTP, em data a designar.

domingo, 28 de outubro de 2012

Christian Bale e Johnny Depp poderão fazer parte do elenco do primeiro filme de Wally Pfister


Os actores Johnny Depp e Christian Bale deverão fazer parte do elenco do primeiro filme de Wally Pfister. Conhecido como director de fotografia de Inception (2010), o seu filme de estreia chamar-se-á Transcendence e será um filme de ficção-científica ambientado nos nossos dias, com argumento de Jack Paglen.

O orçamento será grande e deverá contar com Johnny Depp no principal papel. A esse nome juntam-se agora outros, entre os quais Christian Bale e rumores que apontam para Noomi Rapace (Prometheus), Christoph Waltz (Inglourious Basterds), James McAvoy (X-Men: First Class) ou Tobey Maguire (Spider-Man).

Trascendence será a história de um criador de um computador que desenvolve uma consciência malévola. A produção do filme deverá começar no início de 2013, com produção de Christopher Nolan e Emma Thomas pela Alcon Entertainment e distribuição da Warner Bros.

"Rafa", de João Salaviza, foi premiado no Festival de Curtas de Uppsala 2012


Depois de ter vencido o Urso de Ouro para Melhor Curta-Metragem no Festival de Berlim 2012, o filme Rafa, do português João Salaviza, foi hoje distinguido com o Prémio Uppsala em Memória de Ingmar Bergman, no Festival Internacional de Curtas-Metragens de Uppsala 2012, na Suécia.

O festival destacou a «direcção de fotografia sensível que captura o silência de um jovem rapaz numa missão solitária numa Lisboa Moderna». Adianta ainda que esta é uma «subtil, mas emotiva interpretação que prenuncia um bom futuro», destacando João Salaviza como um «jovem e promissor cineasta que estende as fronteiras da arte cinematográfica». O novo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, já enviou solicitações ao jovem realizador na sequência do galardão obtido (que consiste em 50 mil coroas suecas e uma obra do artista Jin Jiang).

COMPETIÇÃO INTERNACIONAL

Grande Prémio
House Party, de Adrian Sitaru (Roménia)

Menções Honrosas
Through Ellen's Ears, de Saskia Gubbels (Holanda) & Premature, de Gunhild Enger (Noruega)

Prémio Uppsala em Memória de Ingmar Bergman
João Salaviza por Rafa (Portugal)

Prémio UR para Melhor Curta-Metragem
Leur Jeunesse, de David Roux (França)

Prémio do Público
Lakinai, de Jurate Samulionyte (Lituânia)

COMPETIÇÃO NACIONAL

Melhor Curta-metragem Sueca
Beaverhat, de Malin Skjöld

Prémio Especial do Júri para Melhor Direcção de Fotografia
The Clearingby, de Peter Grönlund (Fotografia de Staffan Övgård)

Menção Honrosa
La viande + l'amour, de Johanna Rubin

Prémio do Público
The Quiet One, de Ina Holmquist e Emelie Wallgren

CINEMA INFANTIL

Melhor Filme Infantil
Admissions, de Harry Kakatsakis

John Logan será o argumentista dos próximos dois filmes do franchise James Bond


Depois de ter sido contratado para ajudar Neal Purvis e Robert Wade a finalizar o argumento de Skyfall (que trabalharam juntos no argumento de cinco filmes do franchise James Bond), o argumentista John Logan foi contratado para escrever o argumento dos dois próximos filmes do espião 007.

O argumentista de Hugo (2011) escreverá os dois filmes que, ao que parece, estarão interligados entre si e não são baseados em qualquer material previamente escrito por Ian Fleming.

Bond 24 poderá estrear em 2014 e Daniel Craig regressará no principal papel.

Caleb Landry Jones junta-se a "Tom à la Ferme", de Xavier Dolan


O jovem Caleb Landry Jones juntar-se-á ao elenco do próximo filme do canadiano Xavier Dolan. O filme será uma adaptação de teatro Tom à la Ferme e contará com Éric Bruneau (Les amours imaginaires) no principal papel.

Caleb Landry Jones tornou-se recentemente alvo de algum mediatismo ao protagonizar Antiviral, primeira longa-metragem de Brandon Cronenberg. O actor trabalhará num papel reescrito por Xavier Dolan para o actor e em inglês. Também Xavier Dolan actuará no filme, como o namorado de Tom (Eric Bruneau); juntando-se a Lise Roy (Les invasions barbares) e Evelyne Brochu (Café de Flore).

Tom à la Ferme é uma peça de teatro canadiana, da autoria de Michel Marc Bouchard, na qual conhecemos Tom, um jovem publicitário cujo companheiro acaba de morrer num acidente. Após a sua morte, acaba por conhecer a sua família, para descobrir que a mãe desconhecia a relação e a orientação sexual do filho. O irmão do falecido acaba por forçar Tom a esconder a verdade. O próprio autor trabalhou com Xavier Dolan na escrita do argumento.

Tom à la Ferme deverá em breve começar a ser filmado em Montréal, mas não tem ainda uma data de estreia prevista.

Leia também:

"Les chevaux de Dieu" e "Rust and Bone" são os principais vencedores do Festival de Valladolid 2012


A produção marroquina Les chevaux de Dieu foi o vencedor da Espiga de Ouro do Festival de Cinema de Valladolid 2012, em Espanha. O filme de Nabil Ayouch esteve presente na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes 2012, onde venceu o prémio François Chalais. Já Rust and Bone, do francês Jacques Audiard, venceu os prémios de Melhor Argumento, Actor (Matthias Schoenaerts) e Realizador.

Espiga de Ouro para Melhor Longa-Metragem (Júri internacional)
Les chevaux de Dieu, de Nabil Ayouch

Melhor Argumento (Júri internacional)
Rust and Bone, de Jacques Audiard

Espiga de Prata para Melhor Longa-Metragem (Júri internacional)
Hannah Arendt, de Margarethe von Trotta

Prémio Especial do Júri (Júri internacional)
La cinquième saison, de Peter Brosens e Jessica Woodworth

Melhor Novo Realizador (Júri internacional)
Cate Shortland por Lore

Melhor Actor (Júri internacional)
Matthias Schoenaerts em Rust and Bone

Melhor Actriz (Júri internacional)
Elle Fanning em Ginger & Rosa / Greisy Mena em La vida precoz y breve de Sabina Rivas

Melhor Fotografia (Júri internacional)
Midnight's Children, de Deepa Mehta

Espiga de Ouro para Melhor Curta-metragem (Júri internacional)
Revolution Reykjavik, de Isold Uggadóttir

Espiga de Prata para Melhor Curta-metragem (Júri internacional)
Je sens le beat qui monte en moi, de Yann Le Quellec

Melhor Curta-metragem Europeia (Júri internacional)
Dood van een schaduw, de Tom Van Avermaet

Prémio do Público
Diaz - Don't Clean up this Blood, de Daniele Vicari

Prémio da Juventude
La cinquième saison, de Peter Brosens e Jessica Woodworth

Prémio da Crítica Internacional (Júri FIPRESCI)
La Lapidation de Saint Étienne, de Pere Vilà Barceló & La cinquième saison, de Peter Brosens e Jessica Woodworth

Melhor Realizador (Júri internacional)
Jacques Audiard por Rust and Bone

Menção Especial - Curta-metragem (Júri internacional)
Tabu, de Bo Mikkelsen

Melhor Longa-metragem - Secção Ponto de Encontro
Despre oameni si melci, de Tudor Giurgiu & Tot altijd, de Nic Balthazar

Melhor Curta-Metragem Estrangeira - Secção Ponto de Encontro
Leçons de conduite, de Elódie Lélu & The Man in the Habit of Hitting me on the Head with an Umbrella, de Vardan Tozija

Prémio "A Noite da Curta Espanhola" (Júri Ponto de Encontro)
Hamaiketakoa, de Telmo Esnal

Menção Especial "A Noite da Curta Espanhola" (Júri Ponto de Encontro)
Luisa no está en casa, Célia Rico Clavellino

Menção Especial - Secção Ponto de Encontro
Fecha de caducidad, de Kenya Márquez

Prémio do Público - Secção Ponto de Encontro
Tot altijd, de Nic Balthazar

Prémio da Juventude - Secção Ponto de Encontro (Júri jovem)
Sudoeste, de Eduardo Nunes

Secção Tempo de História
1# Nosotros, de Adolfo Dufour Andía
2# Cuates de Australia, de Everardo González

Menção Especial - Tempo de História
Los mundos sutiles, de Eduardo Chapero-Jackson & Mussolini/Hitler, la ópera de los asesinos; de Jean-Christophe Rosé

Prémio "Castela e Leão em Curta"
El otro, de Jorge Dorado

Francês "Le fils de l'autre" vence o Grande Prémio do Festival de Tóquio 2012


A produção francesa Le fils de l'autre venceu o Grande Prémio do Festival Internacional de Cinema de Tóquio 2012. Na sua 25.ª edição, o certame premiou a história dramática de duas famílias - uma israelita e outra palestiniana - que se vêem subitamente interligadas. O filme de Lorraine Lévy, que venceu também o galardão de Melhor Realizador, esteve presente na 13.ª Festa do Cinema Francês.

COMPETIÇÃO

Grande Prémio
Le fils de l'autre, de Lorraine Lévy

Prémio Especial do Júri
Juvenile Offender, de Kang Yi-kwan

Melhor Realizador
Lorraine Lévy por Le fils de l'autre

Melhor Actriz
Neslihan Atagül em Araf - Somewhere in Between

Melhor Actor
Seo Young-ju em Juvenile Offender

Melhor Contribuição Artística
Pankaj Kumar (director de fotografia) por Ship of Theseus

Prémio do Público
Flashback Memories 3D, de Tetsuaki Matsue

WINDS OF ASIA-MIDDLE EAST

Melhor Filme Asiático ou do Sudeste Asiático
Night of Silence, de Reis Çelik

Menção Especial
Bwakaw, de Jun Lana & Him, Here After; de Asoka Handagama & Full Circle, de Zhang Yang

JAPANESE EYES

Melhor Filme
GFP Bunny, de Yutaka Tsuchiya

TOYOTA EARTH

Grande Prémio
Himself He Cooks, de Valérie Berteau e Philippe Witjes

Grande Prémio Especial do Júri
Trashed, de Candida Brady

"CineCurtas" promove novos cineastas portugueses nos canais TVCine


Numa altura em que o cinema português se encontra em crise, os canais TVCine irão promover os jovens cineastas portugueses num programa de doze episódios, que se dedicará exclusivamente à divulgação de curtas-metragens de produção portuguesas, intitulado Cine Curtas. Além da exibição da curta-metragem, cada programa apresentará um retrato intimista do seu realizador, bem como as motivações e inspirações para a criação e que realidades preferem explorar nas suas obras.

Os programas focar-se-ão em alguns dos mais premiados (inclusive internacionalmente) jovens realizadores dos últimos anos. Apresentamos abaixo a lista completa de realizadores e respectivas curtas, bem como a sua data de exibição no canal TVCine2 HD, pelas 21h30:

  • Nuno Rocha - Vicky and Sam (2 de Novembro)
  • Sérgio Graciano - Assim, Assim (9 de Novembro)
  • Paulo Neves - Cabine (16 de Novembro)
  • Artur Serra Araújo - Desavergonhadamente Real (23 de Novembro)
  • Luís Alves - A Cova (30 de Novembro)
  • Filipe Melo - I'll See You In My Dreams (7 de Dezembro)
  • André Badalo - Shoot Me (14 de Dezembro)
  • Rodrigo Areias - Corrente (21 de Dezembro)
  • Gonçalo Galvão Teles - Senhor X (28 de Dezembro)
  • Pedro Neves - Água Fria (4 de Janeiro)
  • Paulo Abreu - Barba (11 de Janeiro)
  • Zara Pinto - Romeu & Julieta (18 de Janeiro)

"Three Sisters", de Wang Bing, vence o doclisboa 2012


Durante a sessão de encerramento foram anunciados os vencedores do doclisboa 2012. O vencedor do Grande Prémio Cidade de Lisboa para Melhor Longa-metragem da Competição Internacional foi Three Sisters, do chinês Wang Bing. Já na competição nacional, o principal vencedor foi Terra de Ninguém, de Salomé Lamas, que venceu ainda o prémio para Melhor Primeira Obra, Prémio Restart e Prémio do Público.

COMPETIÇÃO INTERNACIONAL

Grande Prémio Cidade de Lisboa para Melhor longa-metragem da Competição Internacional
Three Sisters, de Wang Bing

Prémio Especial do Júri
The Anabasis of May and Fusako Shigenobu, Masao Adachi and 27 Years without Images; de Eric Baudelaire

Menção Especial
Sofia's Last Ambulance, de Ilian Metev

Prémio Siemnes para Melhor curta-metragem da Competição Internacional
Dusty Night, de Ali Hazara

Menção Especial
Relocation, de Pieter Geenen

Prémio Revelação - Fast Forward
Espoir Voyage, de Michel K. Zongo

Prémio Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa para Melhor Longa-Metragem da Competição Internacional
Babylon, de Youssef Chebi, Ismaël e Ala Eddine Slim

Prémio RTP2 para Melhor Documentário de Investigação
Un Mito Antopologico Televisivo, de Alessandro Gagliardo, Maria Helene Bertino e Dario Castelli

COMPETIÇÃO PORTUGUESA

Prémio Liscont para Melhor longa-metragem da Competição Portuguesa
Terra de Ninguém, de Salomé Lamas

Menção Especial
Amanhecer a andar, de Sílvia Firmino

Prémio Jameson para Melhor Primeira Obra da Competição Portuguesa
Terra de Ninguém, de Salomé Lamas

Prémio Canon para Melhor curta-metragem da Competição Portuguesa
Aux Bains de la Reine, de Maya Kosa e Sérgio da Costa

Menção Especial
A Nossa Casa, de João Rodrigues

Prémio Restart para Melhor Longa-Metragem da Competição Portuguesa
Terra de Ninguém, de Salomé Lamas

OUTROS PRÉMIOS

Prémio do Público
Terra de Ninguém, de Salomé Lamas

Prémio para a Melhor longa-metragem dos Países de Língua Portuguesa
Cativeiro, de André Gil Mata

sábado, 27 de outubro de 2012

Mostra de Cinema de Belo Horizonte 2012, por Walter Neto


Pela primeira vez, o Split Screen introduz um convidado para efectuar uma breve cobertura da Mostra de Cinema de Belo Horizonte 2012, no Brasil. As opiniões são de Walter Neto, cinéfilo, licenciado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade de Coimbra com ênfase em Cinema, a quem muito agradecemos pela contribuição.

SOBRE A MOSTRA CINE BH
A mostra que atualmente se encontra na sua sexta edição traz para Belo Horizonte um pedaço do atual panorama do cinema independente mundial buscando discutir os formatos, acordos de produção e financiamento e ainda realizar uma reflexão sobre o cinema independente contemporâneo. Além da mostra, são realizados oficinas e debates com convidados diretamente relacionados à produção de cinematográfica.

Holy Motors (2012), de Leos Carax Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela


Todos desempenhamos vários papéis na sociedade. Nesse grande teatro, somos filhos, namorados, parceiros, patrões, amigos e muitos outros. Somos tudo isso e ainda sim, somos apenas um. Um único ator. Sobre esses papéis é Holy Motors (escrito e realizado por Leos Carax). O filme, um tour de force de Denis Lavant que ao longo de um dia na vida de seu personagem, vive onze vidas diferentes; onze variações de si mesmo. Um duende louco, uma velha pedinte, um homem em seus minutos finais de vida, um mercenário. É um universo kitsch, ora trágico, ora cómico. Tudo ambientado nas ruas da Paris que conhecemos. Carax não reconstrói a cidade luz do zero como uma metrópole futurista. A Paris de Holy Motors é a nossa Paris, o que muda aqui são as pessoas que nela vivem e não morrem; ou morrem e voltam para viver outra vida. No final, um musical, dois para ser mais exato. O primeiro, uma balada de despedida cantada pela Kylie Minogue numa atuação surpreendente. A última, uma canção que toca ao fundo quando Oscar (Lavant) termina seu dia e volta para sua última vida do dia. A que seria a sua real? Isso não importa. Pois como diz a canção: ninguém quer morrer, todos queremos mais tempo. Mais tempo para repetir os mesmos erros.

Killer Joe (2011), de William Friedkin Uma estrelaUma estrelaUma estrela


Em 2005, William Friedkin presenteou os cinéfilos do mundo todo com um estudo sobre a loucura com o ótimo e subestimado Bug. Sete anos depois, o diretor volta a explorar o tema, mas desta vez sem as nuances do filme de 2005. Desta vez, tudo já começa com um tom predominantemente over. É tudo muito bizarro, exagerado a até forçado desde o primeiro plano. Mas o que diferencia Friedkin de outros diretores é a capacidade de nos fazer acreditar naquele universo. O público entende logo que naquele universo não há tempo para nuances e subtilezas. Nos primeiros minutos de projeção já somos apresentados ao absurdo plot. Chris Smith (Emile Hirsch) deve dinheiro a alguns traficantes e para não morrer, decide contratar o killer Joe do título (Matthew McConaughey) para matar sua mãe e ficar com o dinheiro de seu seguro de vida. O filme divide-se em dois momentos: o da execução e o das consequências. Tudo tendo como pano de fundo uma América violenta, suja, pobre que só recentemente tem sido retratada pelo cinema americano. Um filme de grandes interpretações, destacando-se a dupla McConaughey e Hirsch.

Tabu (2012), de Miguel Gomes Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela


Em 1931, Murnau contou a história de um amor proibido entre um pescador e uma jovem prometida, um relacionamento proibido que evocava o Tabu do título. Quase um século depois, amores proibidos continuam existindo, ainda que por motivos diferentes, a ideia de Tabu persiste e seduz-nos. Desta vez, o amor impossível é mostrado através das memórias de um velho (Henrique Espírito Santo) sobre seu tempo ao lado do monte Tabu com sua amada Aurora (Ana Moreira). As memórias apresentadas num ato ironicamente apelidado de “Paraíso” mostram-nos os principais momentos de um relacionamento proibido entre uma mulher casada e um amigo de seu marido. Como toda a história depende mais de quem conta do que o que é contado, vemos esse amor apenas do ponto de vista do amante, do jovem e aventureiro Ventura (Carloto Cotta).

É interessante notar que todos os diálogos são suprimidos. Neste momento a única voz que pode ser ouvida é a do nosso narrador. Sobre Aurora pouco realmente se sabe. O que nos é dado de informação nunca vem diretamente da personagem. Somos obrigados a confiar no relato de Ventura ou imaginar quem teria sido na juventude aquela senhora (Laura Soveral) viciada em jogos que vive apenas com sua empregada e nunca é visitada pela filha. Uma mulher que vive no presente as consequências de seus erros do passado e que tem como último desejo fechar uma ferida há muito aberta, revendo seu verdadeiro amor, Ventura.

E assim Miguel Gomes filma Tabu, um filme que não só é uma bela homenagem ao filme de Murnau, mas também a todo aquele primeiro cinema. Desta maneira, não é de se espantar que logo nos seus primeiros minutos, encontramos a boa Pilar (Teresa Madruga), numa sala de cinema. Pilar que preenche o vazio de sua vida ajudando os outros, mas que no fim, não tem ninguém para ajuda-la. O que a torna não tão diferente de sua vizinha Aurora. Seja na sua história, na sua fotografia, no seu formato ou na escolha da película usada, Tabu, além de uma bela história, é uma homenagem ao próprio meio que permitiu que tal história fosse contada.