quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Looper - Reflexo Assassino, por Tiago Ramos


Título original: Looper (2012)
RealizaçãoRian Johnson
Argumento: Rian Johnson
Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Bruce Willis, Emily Blunt, Paul Dano, Noah Segan, Piper Perabo, Jeff Daniels e Pierce Gagnon

Há no filme um momento muito curioso em que um dos protagonistas diz algo como «podíamos estar aqui a falar sobre viagens no tempo, mas para isso tinha que fazer diagramas com palhinhas». E não o faz. Nem o protagonista o faz, nem Rian Johnson. E esse é o ponto alto de Looper que apresenta uma temática interessante no campo da ficção-científica, no sub-género das viagens do tempo, mas não que não cai no erro de tentar explicar excessivamente aquilo que acontece. Cria acima de tudo um interessante ambiente futurista, cheio de detalhes curiosos, pequenos tiques, objectos e rimas visuais bem compensadas pela montagem dinâmica e fluída de Bob Ducsay, a fotografia de Steve Yedlin (ainda que o uso de flares azuis seja excessivo) e o olhar subversivo e original de Rian Johnson. Em Looper, Rian Johnson mistura parte desse olhar que já tinha revelado em Brick (2005) e The Brothers Bloom (2008) e volta a brincar com os géneros, numa mistura de thriller de acção, ficção científica, romance e até com uma dose elevada de humor negro. Partindo da ideia clássica dos filmes sobre viagens no tempo - regressar ao passado para resolver os problemas do futuro -, não cede porém à tentação obsessiva de filmes como Source Code e Inception (querer parecer inteligente sem o ser, criando um esquema de explicações que subestima o espectador). Pelo contrário: Looper dá créditos ao espectador, apresenta as linhas básicas da ideia e a partir daí diverte-se a seguir as regras ou subvertê-las, criando em segundo plano um interessante mundo real.

É também porém verdade que nem sempre consegue estar a par das excelentes ideias narrativas ou visuais que criou. Parece às vezes existir um desfasamento entre a ideia inicial prometida e a ideia que acaba por concluir; e mesmo que não tornando a narrativa incoerente (tem sempre cuidado em manter a lógica), acaba por originar esporádicos momentos de desilusão. A linha final é um deles: é acertado, afinado e liga grande parte dos pontos que criou, mas também acaba por ser mais estável do que prometia, acabando por se justificar com a habitual lógica do género. Nada disto é porém negativo para a estrutura do filme. Os actores estão no seu melhor estado (um destaque para o pequeno Pierce Gagnon), o ritmo é acertado, a acção é por vezes agradavelmente desenfreada e não se refreia na dose de violência ou humor negro. É por isso um dos melhores objectos de entretenimento puro dos últimos tempos: tem tanto de seguro como de criativo, consegue divertir sendo inteligente e garante mais um bom filme no currículo quase intocável de Rian Johnson.


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