terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Produção nacional foi vista por mais de 750 mil espectadores: um retrato do cinema português em 2012


Segundo os dados mais recentes do ICA - Instituto do Cinema e Audiovisual, a produção nacional cinematográfica estreada em 2012 em Portugal foi vista por 756.298 espectadores. Este é o melhor resultado para o cinema português de sempre desde que os dados do ICA começaram a ser informatizados (ou seja desde 2004). Em 2005, melhor resultado até agora, o cinema nacional levou 504.012 espectadores ao cinema, muito por conta de O Crime do Padre Amaro que ainda hoje é considerado o filme português mais visto entre portas, com 380.671 espectadores.


Em 2012, este resultado foi possível especialmente devido a duas produções independentes - sem apoios do ICA - que estão à margem das habituais produções nacionais e que levaram muitos portugueses ao cinema: caso de Balas & Bolinhos - O Último Capítulo com 256.158 espectadores (actual terceiro filme português mais visto) e Morangos com Açúcar - O Filme, com 238.200 espectadores (e quarto filme português mais visto). Deste ano destacar ainda Aristides de Sousa Mendes - O Cônsul de Bordéus que, depois de ter sido o filme de abertura do Festival de Cinema da Índia em 2011, estreou no final do ano em Portugal com um total de 50.919 espectadores; a co-produção portuguesa Linhas de Wellington, com 49.454 espectadores; Florbela, com 40.875 espectadores; uma segunda co-produção de Paulo Branco, Cosmopolis, com 29.944 espectadores (contabilizado pelo ICA para a lista de filmes nacionais) e Tabu com 21.169 espectadores nacionais (e que voltou agora à exibição comercial em Lisboa, no início de 2013), entre outros.


De recordar que 2011 foi o pior ano para a produção nacional, no que diz respeito a número de espectadores. Apesar de terem sido produzidos em Portugal, vinte e três filmes (recorde desde 2004 a par de 2010), foi o ano com que contou com menos espectadores: apenas 104.442.

Em 2012 estrearam 29 produções nacionais nas salas de cinema portuguesas (em compensação foram produzidos apenas oito filmes nacionais - o número mais baixo desde 2004). Estes números indicam que poderemos estar a assistir a uma reaproximação do público português ao seu cinema, mas que esta curiosamente é feita maioritariamente com a ajuda de filmes de produção independente (um caso raro quando dois filmes portugueses, ambos fenómenos de culto, lideraram por semanas as receitas de bilheteira de cinema em Portugal). Estes fenómenos opõem os portugueses - ideologicamente falando - entre quem critica o "mau gosto" de uns e a falta de cultura cinéfila de outros ou entre quem critica a dependência de subsídios e o cinema narcisista.


De notar também que dois dos filmes que mais levaram espectadores ao cinema este ano foram co-produções internacionais, com elenco e realizadores estrangeiros (Linhas de Wellington e Cosmopolis - um competiu em Veneza, outro em Cannes). Será este o caminho para a proliferação do cinema português entre portas? Ou será um meio termo entre ambos? Curiosamente também Florbela, de Vicente Alves do Ó, se revelou um fenómeno nacional, com mais de 40 mil espectadores, com a produtora Ukbar Filmes a levar o filme a cineclubes e teatros por todo o país, de forma itinerante, com a presença do realizador e/ou actores. Também Tabu, que tem viajado por todo o mundo em festivais internacionais, depois de conquistar o Festival de Berlim, conseguiu render a seus pés uma quota significativa de espectadores: com  pouco mais de 1100 sessões, levou mais de 20 mil pessoas aos cinemas portugueses (Cosmopolis com o dobro das sessões conseguiu quase o mesmo). 


Não esquecer ainda, numa altura em que a produção nacional está quase parada devido ao corte absoluto de financiamento durante o ano (apesar deste ano termos tido 29 filmes estreados em sala, estes dizem respeito aos últimos concursos existentes), os festivais internacionais têm estado atentos ao cinema nacional e temos assistido a um grande número de produções nacionais a serem exibidos no estrangeiro. Se do outro lado do Atlântico isto acontece por força das comemorações do Ano de Portugal no Brasil (onde um grande número de filmes portugueses estrearam no Rio de Janeiro e em São Paulo), há casos únicos e interessantes como A Última Vez Que Vi Macau (ainda não estreado comercialmente em Portugal) que tem feito nome em quase todos os continentes, depois de ter começado em Locarno - com uma menção especial que levou em consideração os períodos conturbados do cinema nacional no nosso país. Ou o caso de Tabu  (vencedor do prémio FIPRESCI e Alfred Bauer em Berlim) que engrossa listas de cinéfilos e críticos internacionais como um dos filmes preferidos do ano 2012, além de um sem-número de importantes festivais nacionais. Muitos destes filmes (onde se juntam Sangue do Meu Sangue, de 2011 e José & Pilar, de 2010, bem como jovens realizadores nacionais e as suas curtas-metragens - como Rafa, de João Salaviza) mais que duplicaram este ano o seu número de espectadores além-fronteiras, como uma prova da vitalidade do cinema português.

Seremos nós os únicos a não percebê-lo e a não valorizá-lo ou isso está a começar a mudar? Esperemos que sim.

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