domingo, 9 de dezembro de 2012

Anna Karenina, por Tiago Ramos


Título original: Anna Karenina (2012)
Realização: Joe Wright
Argumento: Tom Stoppard
Elenco: Keira Knightley, Jude Law, Aaron Taylor-Johnson, Matthew Macfadyen, Kelly Macdonald, Olivia Williams, Domhnall Gleeson, Alicia Vikander, Alexandra Roach, Susanne Lothar, Emily Watson e Michelle Dockery

Adaptações ao cinema do clássico Anna Karenina, de Leo Tolstoy, não são novidade. Daí que não seja de estranhar o surgimento de uma nova adaptação e muito menos pelo britânico Joe Wright, hábil na reconstrução de histórias de época. Mas o problema surge precisamente em como surpreender um público já saturado da narrativa e que já conhecerá a história (e o seu desfecho). Devido a esse conhecimento não é invulgar a forma como o argumento de Tom Stoppard vai desde o início revelando -umas vezes mais subliminarmente que outras - pequenas pistas que antevêem o trágico destino da protagonista, pequenos detalhes estéticos, close-ups ou objectos que prevêem o futuro das suas personagens. São também esses pequenos detalhes que contribuem para a reconstituição social de uma Rússia Czarista, com todas as convenções de uma aristocracia fascinada pela aparência e poder e que tanto o cineasta como o argumentista facilmente são capazes de captar. Embora não sendo necessariamente original no cinema, mas como forma de surpreender a audiência e captar o tom artificial da vida em sociedade em Moscovo e São Petersburgo no século XIX, Joe Wright decide optar por uma opção estética curiosa: a teatralização dos acontecimentos, abdicando das filmagens nos locais físicos e optando por uma sucessão de cenários que se alteram aos olhos do espectador, com palcos e décors em constante mudança. É essa opção estilizada que salva este Anna Karenina de cair no completo marasmo que a dada altura se inicia. É aquela teatralidade coreografada, com uma fotografia esplendorosa de Seamus McGarvey, bem como uma produção de design e direcção artística primorosas, aliadas ao habitual engenho de conjugar perfeitamente a banda sonora de Dario Marianelli com a montagem (desta vez de Melanie Oliver) que produz um completo fascínio no espectador, capaz de o fazer esquecer de todo o vazio que começa a imperar em contraste com todo o esplendor luxuoso que o rodeia.

Joe Wright tenta captar toda aquela crise de identidade em que viviam as personagens da época. E se o consegue esteticamente há falhas claras na forma como os actores as interpretam, sendo os casos mais flagrantes precisamente os dos protagonistas: Aaron Taylor-Johnson e Keira Knightley. Dificilmente ambos conseguem captar toda a falta de esperança e tragédia, envolvida naquela paixão supostamente arrebatadora, que as personagens deveriam transportar consigo a todo o momento. Ambos são claros erros de casting que, mesmo assim, poderiam ter sido bem aproveitados se essa falha fosse usada para evidenciar ainda mais, a sensação de inadaptação das personagens, essencialmente a de Anna Karenina que se sente um erro naquele casamento e naquela sociedade crítica e julgadora. Felizmente existe ainda quem é capaz de suplantar esse desequilíbrio, especialmente Jude Law no papel de Karenin, em toda a sua forma melancólica e soturna de agir ou toda a paixão de Domhnall Gleeson na composição da sua humilde e persistente personagem.

Dentro de todo o esplendor visual, o cineasta não consegue evitar que esse funcione, a dada altura, como factor de distracção de toda a complexidade da história de Tolstoy, criando uma falta de profundidade que deveria ser evitada a todo o custo. É também, no entanto, essa extravagância e artificialismo que evita que o espectador se aborreça das personagens, enquanto permanece visualmente fascinado. Ou seja, uma intenção e composição exemplares a nível estilístico mas que tem uma função dupla e que desequilibra tudo o resto e o que deveria necessariamente importar: a história humana e trágica daquelas personagens.


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