quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Também a Chuva, por Tiago Ramos


Título original: También la lluvia (2010)
Realização: Icíar Bollaín
Argumento: Paul Laverty
Elenco: Gael García Bernal, Luis Tosar, Karra Elejalde e Juan Carlos Aduviri

Filme de teor sócio-político, También la lluvia é inteligente ao utilizar o artifício do cinema para contar a história do conquistador Cristóvão Colombo e do genocídio em Cochabamba, na Bolívia em paralelo comparar com a situação contemporânea no país, onde o povo e as grandes empresas disputam a privatização da água. A realizadora Icíar Bollaín tem uma tarefa interessante quando realiza simultaneamente mais do que um filme: a história contemporânea da cidade boliviana, o filme sobre a chegada de Cristóvão Colombo e (uma interessante utilização da meta-linguagem) um making of sobre o filme do filme. Como filme político e alegoria da injustiça social, este También la lluvia consegue ter uma abrangência bem mais global que o retrato directo que faz: há sempre referências prontas a serem feitas e registadas pelo espectador, pelo que existem diversas analogias que inclusive podem ser aplicadas à sociedade portuguesa. Mas há também um dado curioso: aquela que parece ser uma auto-crítica à própria estrutura do cinema. O filme escolhe a indústria cinematográfica para questionar a sua própria indústria, o que remete também para uma espécie de consciência pesada, utilizando a figura dos realizadores como crítica a quem não faz mais do que aquilo que é obrigado, sem se envolver social e activamente. Por isso a escolha do elenco principal foi extremamente acertada, com Gael García Bernal e Luis Tosar (especialmente este último) a serem o alicerce da estrutura crítica que a realizadora quer fazer, com interpretações expressivamente poderosas. Não descuramos ainda a presença forte (mesmo fisicamente) do estreante actor boliviano Juan Carlos Aduviri que funciona como personagem transversal às três produções dentro do filme, denunciando a desigual estrutura social contemporânea (e não só, mostrando que é um problema recorrente da Humanidade).

Produção de alto valor, com destaque para a fotografia de Alex Catalán e a banda sonora de Alberto Iglesias, tem a sua força na mensagem que pretende transmitir. Porém, falha sobretudo na excessiva função didáctica que imprime nas suas cenas, por vezes quase a julgar o espectador. Não que não seja corajoso na forma como o faz mas, onde injecta doses elevadas de crítica e realismo, perde na emoção que negligencia. Mesmo assim merece pontos pela intenção e pela produção de alto nível que coloca a indústria cinematográfica espanhola como referência.


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