sábado, 12 de janeiro de 2013

Decisão de Risco, por Tiago Ramos


Título original: Flight (2012)
RealizaçãoRobert Zemeckis
Argumento: John Gatins
Elenco: Nadine VelazquezDenzel WashingtonTamara TunieBrian GeraghtyKelly ReillyBruce GreenwoodE. Roger MitchellJohn Goodman e Melissa Leo

Depois de nos últimos anos se ter dedicado a produções que privilegiam os efeitos especiais, não deixa de ser curioso que o regresso à boa forma de Robert Zemeckis, como contador de histórias, se faça com um filme tão simples como este Decisão de Risco. Não que não haja uma quota parte de poderio técnico e tecnológico que se destaque neste filme - ou então estaríamos a descartar a cena inicial do avião como uma das mais belas e emocionantes cenas do ano cinematográfico - mas grande parte do seu valor existe precisamente pela sua narrativa clássica e simples. Obedecendo a regras clássicas dos dramas dos anos 90, aquilo que começa por parecer um tenso thriller com detalhes complexos e acrobacias espantosas, desenvolve-se na realidade numa belíssima composição de uma personagem à, digamos, moda antiga. Não deixa de ser digno de nota que esse regresso se faça também com Denzel Washington, estrela de Hollywood que teve como um dos pontos mais altos da sua carreira, o período entre o início e o final dos anos 90. Digno de nota porque este seu desempenho evidencia um estudo de personagem simples, com uma típica, mas notável, espiral descendente na vida de um homem, suportando o filme através do simples poder da face humana.

Apesar da intensidade do primeiro acto, o argumento de John Gatis é tão simples, quanto soberbo, na construção da narrativa. E apesar de divergir em alguns momentos na velha fórmula do romance, acaba sempre por convergir no estudo das personagens, fazendo deste um drama claro com referências às adições - complementa-as com a história paralela da personagem interpretada de forma fabulosa por Kelly Relly - mas nunca sem transmitir um tom falso moralista. É também um argumento com uma clara divisão em três actos, culminando com uma honesta e clássica redenção, auxiliada por inúmeras personagens secundárias que vão orientando a personagem principal na sua jornada. Personagem essa que se assume um cativante e descomprometido anti-herói e que, mesmo sendo um velho cliché já repetido vezes sem conta no cinema, funciona muito bem por força do actor que a compõe. Não descartemos também a força da realização de Robert Zemeckis e da fotografia de Don Burgess, que não têm receio de regressar às fórmulas clássicas, mas assumindo também que as sabem recriar (não foi o caso, por exemplo, de War Horse que mesmo regressando à fórmula clássica, não soube deixar de ser um mero dramalhão bem orquestrado). Não há mal regressar a esses locais, mesmo numa altura em que o cinema se renova e reinventa, se for para trazer de volta ao grande ecrã uma produção simples e linear, mas honesta e competentemente trabalhada.


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