sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Eu, Alex Cross; por Carlos Antunes


Título original: Alex Cross
Realização: Rob Cohen
Argumento: Marc Moss e Kerry Williamson

Na primeira quinta-feira de 2013 chegou às salas o pior filme do ano. Não há risco nenhuma em fazer esta afirmação, pois Eu, Alex Cross é o filme que vai além da acumulação de clichés para os começar a usá-los em contradição interna.
Os dois argumentistas escreveram uma tal algaravia que há um misterioso cartão magnético que surge logo ao início e que fica esquecido para lá dos créditos finais. Como este detalhe, são várias as cenas que surgem sem encadeamento ou lógica interna.
Parece que se esforçaram demais para compensar uma história irrisória, sobretudo acrescentando características ao vilão que pertencem a duas mãos cheias de outros filmes, mas nunca poderiam caber num só.
Vê-se isso de forma fácil pelo nome: Carniceiro de Sligo (como se auto-denomina) ou Picasso (como lhe chama a polícia) deveriam ser incompatíveis numa única personalidade.
Para os argumentistas não, é antes a hipótese de terem um vilão que é, simultaneamente, o mais inesperado campeão de pesos-pesados da UFC, um ex-militar tornado executor exímio, um psicopata com requintes de sadismo, um serial killer que deixa pistas desenhadas a carvão e um assassino contratado com um plano de que não se desvia a menos que decida executar vingança sobre quem lhe tentar responder aos tiros.
Esta é a personagem de Matthew Fox, o único actor do lote de quem se poderia esperar algum efeito de subida de qualidade do filme.
Mas como a sua ideia de corporizar o Carniceiro de Sligo é levar a boa forma ao extremo e rapar o cabelo, passamos o filme a olhar para o aspecto de alguém que poderia estar no início da recuperação de um longo período passado num campo de concentração.
A sua interpretação é irrelevante, ao contrário - como os pósteres denunciam - da sua presença que é necessária para dar ao público uma cara conhecida.
O antagonista necessário a Tyler Perry, um actor que obriga a consultar a lista de filmes que protagonizou para tentar perceber de quem se trata. E, mesmo depois, permanece-se na mesma ignorância que até aí pois não se reconhece (nem se deseja fazê-lo) qualquer título.
Deveria ser o rival a definir a dimensão extraordinária do detective - missão falhada, como já ficou subentendido antes.
Por si próprio, este Alex Cross consegue ainda minorar-se mais. Os seus talentos como psicólogo são maus - tem uma única chance como profiler e falha miseravelmente -, as suas capacidades dedutivas são infantis - dobra um desenho e encontra a pista - e a sua imponência física é transitória - não existe até à cena em qe tem de derrotar a murros o Carniceiro de Sligo que abriu o filme dando uma carga de porrada ao campeão de pesos-pesados local.
A interpretação de Perry é macia e errante e a sua presença como Alex Cross tem apenas um benefício: provocar saudades e aumentar o reconhecimento de quanto Morgan Freeman é bom actor.
Fosse na versão pouco mais que razoável (Kiss the Girls) ou na versão um pouco menos que fraca (Along Came a Spider), Morgan Freeman fazia de Alex Cross uma personagem condigna e substanciada.
Concluindo o pacote de más escolhas com que este filme foi dotado, Rob Cohen realiza um mau filme de acção onde deveria existir um thriller. Para, mesmo no final, na verdadeira cena de acção que tinha de filmar, fazer uma sequência de grandes planos a partes do corpo que nunca se distinguem tão rápida é a sequência de cortes entre planos.
Visto que a sequela deste filme já estava em andamento ainda ele não tinha estreado, só posso imaginar que nada fará parar a máquina que retalha os livros de James Patterson.
Como dificilmente haverá quem veja este filme e se torne fã dos livros protagonizados pela personagem e como dificilmente haverá fãs dos livros que gostem deste filme, posso apenas conjecturar que se trata apenas da maneira para garantir, com obstinação absoluta, a transição de Tyler Perry para o cinema de acção.
Os produtores não se devem importar que os fãs hardcore da personagem (ou os simples ocupantes da sala de cinema, como quem aqui escreveu) continuem a destilar ódio aos próximos filmes, desde que paguem o bilhete para o poderem fazer...


3 comentários:

  1. É muito forte fizer que é o pior do ano. Não é pior que, por exemplo, "Piranha 3DD" ou "LOL"...

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    1. Mas esses estrearam em 2012 em Portugal. "Alex Cross" em 2013. :)

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  2. Já eu acho que consegue ser pior que Piranha 3DD, pois nesse as expectativas já eram baixissimas.

    Até que enfim que alguém "desmascara" este filme, que depois de me deixar perplexo nos minutos iniciais com tamanha fraca qualidade, acabou por me fazer rir até ao fim com os erros que se iam vendo.

    Sinceramente não entendo como o actor de duas das minhas séries favoritas (Lost e Party of Five) pôde fazer este papel, e dar uma interpretação tão fraca.

    Sobre a cena de luta, ele avisou o adversário para não lhe acertar na cara, mas como esse alerta não foi acatado... (outra cena ridicula!!!)

    As cenas ridiculas seguem a um ritmo alucinante, inesperado para um filme que veio catalogado como um bom filme de acção, com os seus actores a irem a talk shows de renome.

    A descrição do Carlos Antunes do Tyler Perry é perfeita, um actor que ao se ir pesquisar a sua filmografia não se reconhece nada, nem se deseja.

    É caso para dizer que mesmo tendo estreado em 2012, é dos piores filmes que tenho memória em largos anos, ou pelo menos, o que mais me desiludiu.

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