domingo, 3 de março de 2013

Fantasporto 2013: Dia 6

Fim-de-semana de Fantasporto é sempre bastante intenso, dada a oportunidade de assistir mais filmes de forma consecutiva. Não houve sessões esgotadas (as da tarde tiveram menos audiência), mas a última sessão esteve bastante completa. Antes de passar à apreciação das longas-metragens em competição exibidas hoje, uma nota para as curtas-metragens. Sou habitual crítico da qualidade das curtas escolhidas para competição (na sua maioria francamente fracas e, por exemplo, com péssima The Birth of Rock - exibida na sessão de abertura - a ser uma prova disso), mas no dia de hoje, entre as habituais más escolhas houve algumas que se destacaram. Entre as surpresas positivas destaque para a taiwanesa Pohyper e a sua elevada criatividade; com a vencedora do Cartoon d'Or 2012, Oh Willy... a evidenciar-se pela sua competente e divertida animação em stop motion com bonecos feitos de feltro e lã; e a espanhola El vagabundo a primar pela sua simpatia com uma temática divertida e nuances de ficção científica.

O Apóstolo (2012), de Fernando Cortizo Uma estrelaUma estrelaUma estrela½
Produção animada em stop motion com estereoscopia, pelo menos a nível técnico O Apóstolo consegue facilmente competir com os grandes trabalhos de animação mundiais. As personagens e cenários são fabulosamente detalhados (com destaque para uma ocasional presença de uma reconstituição da catedral de Santiago de Compostela ou uma pequena aldeia perdida na Galiza que bem poderia ser no interior português), com um surpreendente jogo de luz e sombra que torna tudo muito mais credível. A narrativa deambula entre a fantasia, com toques de folclore espanhol, num estilo sombrio, cativante e com direito a algum humor. E mesmo que a história se precipite num final que é, de certo modo, anti-climático, O Apóstolo é uma das melhores surpresas até ao momento no Fantasporto.

After (2012), de Ryan Smith Uma estrelaUma estrelaUma estrela
O início de After não augura nada de muito bom. Nota-se o orçamento reduzido e a terrível mistura e edição de som não permitem ao espectador focar-se como devia na história. Mas o positivo é que nos dois primeiros terços da história, o filme consegue manter o interesse criando um mistério que parece complicado de desvendar e que vai buscar inspirações a Stephen King (especialmente a The Mist). A protagonista feminina que não convence inicialmente, lá vai melhorando ao longo do filme e consegue convencer mesmo nos momentos mais complicados, em que a narrativa parece esticar demasiado a sua credibilidade. De qualquer modo e mesmo não sendo original, o argumento não chega a cair demasiado no óbvio que fazia crer. Pena que finaliza num tom romântico que poderia ser facilmente dispensável.

The Seasoning House (2012), de Paul Hyett Uma estrelaUma estrelaUma estrela½
Uma das maiores surpresas do certame até agora. Isto porque o primeiro terço do filme, deixava antever um filme de narrativa lenta, num estilo pseudo-artístico (a fotografia amarelada, os frequentes slow motions) e que quase massacra o espectador, no seu tom rotineiro. Felizmente apercebemo-nos que esse tom é precisamente para preparar o espectador para as emoções fortes que vêm aí. Afinal, The Seasoning House assume um género de horror survival movie, bastante convincente, com bons desempenhos e especialmente corajoso, ao não ter medo de ser violentamente gráfico e com cenas impressionantes que me fizeram contorcer na cadeira. Não é um grande filme, mas cumpre mais do que prometia, de uma forma bastante corajosa, algo raro no cinema contemporâneo.

Insensibles (2012), de Juan Carlos Medina Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela
Produção tecnicamente irrepreensível, com uma excelente direcção de fotografia e uma reconstituição de época fantástica (especialmente as referentes ao período que engloba a Guerra Civil Espanhola e outros momentos que dizem respeito também à História mundial). Narrada a dois tempos, o filme apenas perde precisamente da forma como a montagem é feita: a forma curta e alternada com que divide a acção entre o tempo passado e o presente nem sempre permite ao espectador concentrar-se na intrigante narrativa. É verdade ainda que o argumento acaba por parecer demasiado rebuscado (especialmente na recta final), mas a forma como a narrativa foi inicialmente construída assim o obrigava. O elenco está excelente nos seus papéis, especialmente as crianças, que impressionam pela sua competência e frieza. Insensibles é uma co-produção portuguesa da Fado Filmes, de Luís Galvão Teles, bastante cativante e que não envergonha ninguém. Um dos melhores filmes do certame.

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