quinta-feira, 21 de março de 2013

Ferrugem e Osso, por Tiago Ramos


Título original: De rouille et d'os (2012)
Realização: Jacques Audiard
Argumento: Jacques Audiard e Thomas Bidegain
Elenco: Marion Cotillard e Matthias Schoenaerts

Jacques Audiard é um dos mais interessantes cineastas contemporâneos a trabalhar o realismo competente e eficaz, não excessivamente lamentado. Se nos dois filmes anteriores esse método de trabalho era evidente e brilhantemente construído, em Ferrugem e Osso há algo que se modifica. E esse agente de mudança influencia na construção de um objecto - e aqui começamos pelo negativo - que em demasiados momentos apresenta um excesso de comiseração, um sentimentalismo exacerbado, bem como uma espécie de estética da dor, largamente embelezada. Falta-lhe a crueza de outros seus trabalhos, porque se perde no tom melodramático não raras vezes, quase fascinado pelo rol de desgraças que desvenda (literalmente!) do início até ao fim da trama. É esse o maior ponto negativo que temos a apontar.

Felizmente fica-lhe ainda bastante do seu talento (que quase tem de sobra) e constrói um intenso drama, com imagens de uma crueldade extrema e por vezes quase sádica para com o espectador. Manobra e manipula as personagens a seu bel-prazer, inflige-lhe um sofrimento que as leva ao fundo do poço e arrasta o espectador consigo e apresenta uma série de momentos absolutamente incríveis do ponto de vista cinematográfico e emocional. Mas se o filme fosse apenas isso não brilhava tanto. Felizmente Jacques Audiard tem uma capacidade extraordinária de dirigir os seus actores como poucos e Marion Cotillard e Matthias Schoenaerts formam uma notável dupla de seres humanos danificados, física e emocionalmente, uma espécie de The Beauty and the Beast, ele um bruto gentil, ela uma bela e ávida mulher (que depois por assumir também ela um lado de monstro que a leva às profundezas) ou um The Wizard of Oz, ele sem coração, ela sem pernas, que se unem para encontrar o sentido da vida. É uma beleza trágica aquela que o filme nos apresenta e que os actores levam ao expoente máximo, como raras vezes se vê no cinema, conduzida de uma forma inteligente (até no modo como faz um raro competente uso do CGI).


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