segunda-feira, 23 de setembro de 2013

MOTELx - Os desapontamentos, por Carlos Antunes

Room 237 (2012), de Rodney Ascher


Arriscaria dizer que este era filme mais esperado do festival - ou muito lá perto - e isso só aumenta o desapontamento de um filme que não é mau mas que vive somente da atracção do seu conteúdo. Tirando um ou outro momento inspirado na montagem das imagens dos próprios filmes de Stanley Kubrick, o resto resume-se a pedaços de The Shining mostrados - em velocidade normal, frame a frame, de trás para a frente, etc... - por cima dos relatos vocais gravados por vários fãs defensores das teorias mais ou menos extraordinárias que existem sobre o filme. Sendo que essas teorias estão bem documentadas online, o único efeito benéfico do filme é a agregação das mesmas (dificilmente se conhecem todas a menos que se seja obcecado como quem fala) mas falta-lhe um sentido crítico. Afinal se de um lado os detalhes apresentados acerca do subtexto que o filme tem sobre a falsificação da ida à Lua ou sobre o Holocausto são lógicos, há depois um nível de possível exagero que o filme deixa passar. Pelo menos o foco naquela forma de projecção "inovadora" de passar The Shining sobreposto da frente para trás e de trás para a frente ouvindo dizer que completa uma espécie de círculo de significado já está para lá do raciocínio lógico e deveria levantar a interrogação sobre até que ponto há algumas das teorias são apenas absurdos ou wishful thinking. Uma estrelaUma estrelaUma estrela Carlos Antunes


Chained (2012), de Jennifer Lynch


Tal como em Surveillance, Jennifer Lynch parece não saber acolher somente a contemplação dos efeitos das situações em que insere os seus personagens ou que eles provocam. Tem de inserir a acção como engrenagem permanente da narrativa, mesmo até a um final que surge como absoluta surpresa por já quase nada ter que ver com o filme que a realizadora foi estabelecendo. Tudo isto ao invés de explorar a mera vida conjunta - e confrontada - de um homem e um miúdo em algo que está entre a cedência à adopção forçada e a vivência com o medo mesmo enquanto este se desfaz. A cena final, numa espécie de caracterização psicológica em aberto vem reforçar essa ideia de falta de contacto com a realidade das personagens que criou. Uma estrelaUma estrela½ Carlos Antunes



Kiss of the Damned (2012), de Xan Cassavetes


Anunciava-se o Horror no feminino a propósito deste festival, mas tal ideia foi contrariada pela realidade. Kiss of the Damned mostra-se uma leitura da sociedade vampírica de True Blood pela memória de um romance Vitoriano de classe alta. Tudo visto pelo prisma gótico de um Lucio Fulci. O problema é que há mais romance - acrescido de cenas de sexo de imaginário bem mais moderno - do que filme de vampiros e, apesar da qualidade da fotografia do filme, não se compara verdadeiramente a Fulci. Com um enredo demasiado limitado para impôr qualquer ritmo cativante, o filme que era sobre um amor entre uma vampira e um humano (depois transformado) torna-se no filme sobre a irmã dela, rebelde ao estilo moderno e a precisar de entrar num centro de reabilitiação. Roxane Mesquida lá vem dar ao filme algo para ver, a actriz de que Catherine Breillat disse ter elegância de grande actriz e, ao mesmo tempo, "ser uma bomba", lá cria a única personagem por inteiro do filme (mesmo sendo uma personagem de traços bastante expectáveis). Aliás, a única personagem que suja os lábios com sangue. O filme é mesmo mais uma deformação dos mitos do Horror pelo excesso de Romantismo. Uma estrelaUma estrela Carlos Antunes



Maniac (2012), de Franck Khalfoun


Com uma certa aura de culto o original deste filme tinha, pelo menos, algumas ideias com qualidade que remetiam para filmes muito melhores do que o filme de William Lustig chega a ser. A hipótese de os utilizar em benefício de um produto menos submerso em elementos menores da década de 1980 era bem vinda. Pelo contrário, o novo filme parece querer incluir o máximo deles possível, da música à estrutura da história. O problema maior vem de um desses elementos e que deve ser o que passa por grande invenção do filme: ser filmado do ponto de vista do assassino.
Não só esse elemento se torna cansativo por durar tanto tempo - demonstrando porque é que V/H/S tem de ser uma antologia de histórias breves - como retira qualquer verdadeira possibilidade de pensar cinematograficamente o filme. Pior ainda, não é por estarmos na posição do assassino que com ele empatizamos ou que ele se torna numa personagem. Aqueles entediantes olhares ao espelho para a que Elijah Wood faça do olhar uma interpretação devem na realidade servir para lembrar quem seja o protagonista do filme, mesmo que seja um tipo que continua a mostrar não ser actor.
O momento a meio do filme em que câmara escapa a este ponto de vista é um esquecimento e não um momento que fale da cisão entre as duas personalidades que parecem existir no mesmo corpo. Mas nada tão absurdo como o manequim da sua própria versão infantil que reproduziu, eventualmente para se ver sem se ver ao espelho... Uma estrela½ Carlos Antunes

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