domingo, 26 de outubro de 2014

Duas Vidas, por Tiago Ramos


Título original: Zwei Leben (2012)
Realização: Georg Maas, Judith Kaufmann
Argumento:  Georg MaasJudith Kaufmann, Christoph Tölle, Ståle Stein Berg
Elenco: Juliane Köhler, Liv Ullmann, Sven Nordin

Ainda que as temáticas da Segunda Guerra Mundial ou a Alemanha Nazi desde há vários anos façam parte de um tema comummente abordado no Cinema (europeu e não só), começa a ser difícil - e devido a essa abordagem frequente - encontrar um produto original o suficiente para não sofrer por comparação. Não que este Duas Vidas seja uma produção francamente original na abordagem, até porque há vários pontos de semelhança com a literatura e filmes de espionagem, mas consegue, tanto na narrativa como na concepção, primar por um olhar distinto. Mesmo que esteja indirectamente ligado ao Holocausto, o argumento pretende estender-se às largas consequências da Segunda Guerra Mundial e da polícia secreta alemã, mas de um ponto de vista mais humano, familiar e singular (foge ainda do universo geográfico exclusivamente alemão para assumir parte da narrativa no seio da comunidade norueguesa.

Ainda o interessante na construção do argumento e na montagem do filme, é que dá-se preferência à informação que se dá ao espectador, em detrimento da que se dá às personagens. Embora não seja um artifício incomum e mesmo que retire algum suspense, permite ao espectador colocar-se na pele da protagonista, assumindo o seu grande complexo moral. Com uma frequente divisão entre passado e presente (com os flashbacks a servirem também para contextualização geopolítica e histórica), o trabalho técnico do director de fotografia retrata-a de uma forma competente, mesmo que mais clássica e usual: as cenas do passado adoptam o grão e saturação extrema, assim como uma câmara à mão, enquanto que as cenas contemporâneas são filmadas com movimentos suaves e ligeira saturação das cores.

Destaque para as interpretações fabulosas de Juliane Köhler e Liv Ullmann, ainda que todo o elenco secundário seja particularmente competente. É o trabalho destes actores que potencia todo ambiente tenso em redor da espionagem e da vida dupla, que remete muitas vezes para as obras de John le Carré, um dos mestres da temática, mas que nunca abdica da componente melodramática e emocional.

Ainda que formalmente rígido e de estrutura clássica, a abordagem da narrativa e o talentoso trabalho do elenco de actores e equipa técnica, fazem deste Duas Vidas um filme que trabalha com competência, mesmo sobre um tema que já evoca alguma saturação na produção cinematográfica. Não esquecendo a sempre bem-vinda distribuição da produção cinematográfica alemã no nosso país, algo que é estranhamente cada vez menos frequentemente.


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