quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O Quarto Azul, por Tiago Ramos


Título original: La chambre bleue (2014)
Realização: Mathieu Amalric
Argumento: Mathieu Amalric, Stéphanie Cléau
Elenco: Mathieu Amalric, Léa Drucker, Stéphanie Cléau

O azul do quarto que dá nome ao filme e que inicia o espectador no thriller sinuoso e intrigante é o mesmo do tribunal que percorre e termina a narrativa. E pela cor fria que é, também Mathieu Amalric regressa à realização com um lado cerebral bem mais acentuado que na sua anterior longa-metragem, Tournée (2010). A visão que o realizador nos traz é também ela bem fria, optando por uma narrativa desfragmentada - que apesar de comum no Cinema, aqui consegue manter o interesse do espectador - e despojada de grandes artifícios. O Quarto Azul é pois, por isso, um filme de actores (principalmente Mathieu AmalricStéphanie Cléau) como amantes intensos obsessivos, que tentam perceber até onde vai o Amor.

Apesar da secura e racionalidade que percorre toda a narrativa, a visão de Mathieu Amalric não abdica da atmosfera intensa, que aposta nos cenários e nos olhares distintos das personagens (com um tom a evocar, por vezes, o Cinema de Hitchcock), como forma de prolongar o mistério. O realizador recupera também uma tendência sua: a de seguir protagonistas masculinos aprisionados num universo feminino; sensação esta de armadilha que o uso do Academy ratio reforça. É como se as personagens pressentissem os limites curtos do ecrã e como tal se sintam encurralados e forçados a agir. É por isso que a paixão dos dois não se consegue conter naquele quarto azul: é grande demais para não se expandir.

Ainda que simplista e de certa forma básico na sua estrutura, a verdade é que o filme funciona exactamente como é e está. Tenso, misterioso e atmosférico, O Quarto Azul aproveita bem o cenário e a luz, para dar continuidade à narrativa para além do papel, mantendo-nos a nós espectadores reféns daquela paixão tóxica.


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