quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Cornos, por Carlos Antunes



Título original: Horns
Realização: 
Argumento: 
Elenco: 


Alexandre Aja continua a ser referenciado pelo seu segundo filme, Haute tension, um exercício vazio que praticamente demarca o final do New French Extremity - uma classificação demasiado lata mas que continua a ser negativa, não importa o culto que um filme como esse tenha merecido.
Tem algo de injustiça poética que assim seja, já que Aja se tem esforçado por demonstrar as suas capacidades como realizador trazendo um digno savoir faire a remakes de filmes de terror do final dos anos 1970 e a um projecto próprio como Mirrors.
Não creio que a situação se altere com a sua primeira obra capaz de apelar a uma audiência mais abrangente, embora ele faça por o merecer.
Sem se desligar do elemento de terror Aja assinou o seu melhor filme. Causa maior para tal a responsabilidade de construir uma personagem.
Ao invés de depender dos efeitos - visuais ou de estilo - para justificar mais um filme Aja teve de se dedicar a Ig, personagem que proporciona um nervo emocional sobre o qual o realizador trabalhar que nunca antes teve a seu cargo.
A fidelidade com que o fez, mostrando uma crença na personagem que Daniel Radcliffe tudo fez (bem) para justificar, é o que mantém a coesão do filme que se mostra mais do que a soma das suas partes.
Movimentando-se entre vários géneros - história de amor, sátira contemporânea, horror simbolista, investigação policial e filme de vingança - a história consegue combiná-los tantas vezes quanto se deixa conduzir por apenas um deles.
Ig mantem-se uma personagem consistente agregando estes segmentos em torno da sua própria evolução e fazendo o filme resultar sem que se notem as suas duas horas de duração.
Narrativamente nenhum dos géneros se torna mais marcante do que os restantes - embora a sátira arranque risos com a sua eficácia - mas imageticamente acontece o oposto.
Alexandre Aja deixa a sua marca com os flashbacks que constroem a história de amor feliz trabalhando o excesso de luz como oposição à do tempo presente mas conseguindo manter um perfil incomum na recriação dos clichés do género.
Alexandre Aja só volta a ser o realizador que já conhecíamos no final quando o desenlace do filme exige que o terror mais evidente apague os traços dos restantes géneros em jogo.
Menos subtil mas mesmo assim eficaz, o realizador tem de fazer uso do que até aí era apenas a apropriação da imagética religiosa com um forte sentido de ironia dramática no percurso de Ig .
O mesmo momento em que Ig deixa de ser um personagem para ser a corporificação da ameaça demoníaca que o filme passa o tempo a anunciar.
O resto do tempo há que louvar a entrega de Daniel Radcliffe que já pela segunda vez este ano mostra que além de ter o perfil para ser protagonista - de outros filmes que não os da saga do feiticeiro - tem ainda o talento necessário.
Em dimensões diametralmente opostos, Horns e What If fazem do actor um dos mais interessantes nomes dos últimos meses em que acertou finalmente com papéis que são diferentes do esperado para ele mas que estão adaptados a ele (ao contrário de um The Woman in Black).
A única acusação - ou interrogação - que se possa fazer ao actor é a de estar a dar demasiado em papéis que ainda não têm a qualidade que se espera que ele atinja. Os próximos papéis responderão a tal dúvida.
Uma revelação dos talentos adicionais do seu protagonista e do seu realizador, o filme é um entretenimento com várias tonalidades.




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