quinta-feira, 5 de março de 2015

Chappie, por Tiago Ramos


Título original: Chappie (2015)

Desde que District 9 (2009) lançou o realizador sul-africano Neill Blomkamp para o estrelato, cedo se percebeu que este tinha a capacidade de brincar com os estereótipos dos blockbusters hollywoodescos, lançando sempre uma crítica social ácida e subversiva. No primeiro era uma referência óbvia ao Apartheid na África do Sul e à ainda existente xenofobia da sociedade, mas com contornos mais originais e menos formatados que em Elysium (2013). Neste caso, mais focado na clássica luta entre os ramos mais e menos favorecidos de uma sociedade futurista, só que mais perdido num orçamento megalómano e que sucumbia à força (também limitadora) das grandes produtoras de Hollywood.

Em Chappie, Neill Blomkamp regressa aos temas que lhe são queridos: a ficção-científica e o confronto da sociedade contemporânea, novamente numa Joanesburgo, em 2016, onde a polícia tem uma força-tarefa composta por robôs que diminuiu radicalmente a violência e o crime organizado. Só que aqui prefere não levar-se tão a sério e embora utilize a comum sátira social, mistura ainda mais géneros que o habitual. Oscila entre a acção frenética e explosiva (apanágio dos blockbusters), mas subverte-a com uma dose dramática e emocional, conjugada com alguma comédia que é mais que um mero comic relief. Esta ideia de Chappie, a dos andróides e dos robô com inteligencial artificial já não é propriamente novidade: RoboCop (1987), I, Robot (2004) e Artificial Intelligence: AI (2001) ou até Frankenstein (1931) são filmes que nos vêm imediatamente à mente. Mas o coração e o humor que imprime à personagem que dá nome ao filme, aqui interpretada por Sharlto Copley, actor-fetiche do realizador, é o que de mais cativante o filme tem. Isso e a frescura da escolha da dupla de rappers sul-africanos Ninja e Yo-Landi Vi$$er (há uns anos David Fincher pensou no seu nome para interpretar Lisbeth Salander), vocalistas da banda Die Antwoord. Curiosamente são o que de mais interessante o filme tem, pela sua bizarria kitsch urbana, energia anárquica e pelo desfile de situações caricatas gangsta style que tornam Chappie num produto bem mais interessante (e sobretudo diferente) do que habitualmente nos chega ao grande ecrã.

Ainda assim, a narrativa central é muitas vezes caótica e não se coíbe de alguns lugares-comuns e sobretudo do subaproveitamento dos seus actores. Sigourney Weaver é meramente acessória (ainda que esta sua participação tenha servido para consolidar a sua colaboração com Neill Blomkamp no novo filme da saga Alien), já para não falar de Hugh Jackman numa horrível interpretação, over the top e cliché que dói. Mesmo assim, Chappie é fresco o suficiente para merecer um olhar mais que curioso, mas sabemos que Blomkamp é capaz de melhor.


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