quinta-feira, 14 de maio de 2015

O Sapateiro Mágico, por Eduardo Antunes


Título original: The Cobbler (2014)
Realização: Thomas McCarthy
Argumento: Thomas McCarthy, Paul Sado

O título português parece pôr o filme no patamar de um qualquer filme infantil, ainda que não seja desonesto sobre a premissa do mesmo. Mas vendo os trailers, não pôde deixar de ficar uma certa curiosidade sobre a ideia do filme e, mais, sobre um Adam Sandler que se parece querer distanciar dos seus últimos insucessos cinematográficos. Restou saber se o consegue de facto.

Logo à partida, este não é nenhum About Time, apesar do género cinemático ser o mesmo. Em About Time, o conceito do fantástico era meramente utilizado (ainda que de forma extremamente bem equilibrada e subtil) como uma ferramenta dramática, e por vezes cómica, mas que funcionava como meio de desenvolver o protagonista, mais do que desenvolver o filme em volta de si.
Aqui, como a própria banda sonora nos aponta logo pelo início e como vai reforçando, o clima deste filme é diferente, não pretendendo ser levado demasiado seriamente e não tendo o mesmo tipo de desenvolvimento dramático do nosso protagonista que o filme de Richard Curtis.
Por isso mesmo, a comparação não é justa, e devemos olhá-lo como uma peça de entretenimento genuíno, com um conceito divertido e que no final brinca com a própria ideia do filme se transformar num franchise sem que realmente o queira.

A isto, acrescenta-se um Adam Sandler quase irreconhecível. Depois de várias comédias de mau gosto em que o seu exagero cómico transbordava do ecrã numa repetição dos mesmos trejeitos pelos quais se tornou conhecido, vemos uma sua faceta que poucas vezes tivemos oportunidade de ver durante a sua carreira. 
Não é brilhante, mas nem o pretende ou precisa de ser, fazendo-nos no entanto envolvermo-nos nas (des)aventuras de um aparentemente simples sapateiro. Numa cena em que pretende dar à sua mãe um momento de felicidade, sentimos mesmo o amor que a sua personagem transmite, ainda que não o transmita vivamente. Também se torna divertido olhar a personagem de Adam Sandler na pele de outras pessoas como um miúdo negro, um travesti ou mesmo um cadáver, assim como ver a utilização final do seu "dom" para pôr em marcha um plano que parece quase saído de um filme de espiões, num filme que claramente não pretende ser levado de uma forma séria.

Em suma, este é um filme ao género de Be Kind Rewind, com um conceito divertido que permite alguns sorrisos e nos permite passar um bom tempo. Não é de todo um filme que ficará na memória do cinema, mas caso queira tirar da sua memória um certo Grown Ups e subsequente sequela, e relembrar um tempo em que Adam Sandler fazia filmes como Punch-Drunk Love, este é, para o próprio actor, uma escolha acertada. Esperemos que Pixels não arruine esta tentativa de reconciliação com o seu público.

[2.png]


Sem comentários:

Enviar um comentário