domingo, 22 de janeiro de 2017

Manchester by the Sea, por Tiago Ramos


Título original: Manchester by the Sea (2016)
Realização: Kenneth Lonergan

A lente de Kenneth Lonergan movimenta-se em redor da personagem de Lee como se obedecesse a um princípio geométrico da dor. São padrões, rotinas, deambulações e sobretudo expressões de apatia, que movimentam a personagem em redor de um fosso muito seu, que embora ainda não conheçamos, já conseguimos antever. Lee está morto por dentro. Enquanto deita móveis velhos de outros ao lixo, desentope sanitas e conserta canalização, os outros falam. Falam e muito, sobre a sua vida, a dos outros, as suas expectativas, Lee é um faz-tudo, mas podia ser também um psicólogo, não fosse ele estar tão absorto na sua própria dor, que em seu redor tudo lhe é aparentemente alheio.

Casey Affleck faz uma construção poderosa e até desconcertante da personagem de Lee. Sufocante e até deprimente, mas chega a ser, por vezes, de tão marginal aos princípios da sociedade que se tornou, difícil ao espectador não esboçar um sorriso. Um sorriso ou até um riso nervoso, do desconcertante que é observar a figura deste homem simples, consumido por uma dor avassaladora, que é ao mesmo tempo a sua razão de viver. O espectador ri porque se sente constrangido, porque aquelas reacções extremas, são simultaneamente tão distantes quanto próximas.

Também porque dentro de todo aquele cinzentismo, há lugar para o coração. Mas é também aí nesses pequenos ensaios de redenção, que a narrativa tende a cair num excesso de melodrama. Dentro do Inverno profundo de Manchester, há também aquela ideia poética de afirmar que mesmo no cenário mais negrume há tempo para uma segunda oportunidade. E por mais que nos possamos identificar com isso, é aí que o filme perde, a espaços, por se refugiar em subterfúgios do drama que não necessitava.

Ainda assim, entre tantos ensaios de redenção, Manchester by the Sea nunca chega a ser um filme sobre tal. É sim, uma história crua e dura (aqueles minutos de confronto entre Lee  e Randi são extraordinários) sobre o cinzentismo da vida e sobre como, apesar de tudo, há dores na vida que são inultrapassáveis. Nem sempre há finais felizes.


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