segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Patriots Day - Unidos por Boston, por Tiago Ramos


Título original: Patriots Day
Realização: Peter Berg
Argumento: Peter Berg, Matt Cook, Joshua Zetumer
Elenco: Mark Wahlberg, Michelle Monaghan, J.K. Simmons

Dentro de todos existirá, eventualmente, a fantasia do herói: a necessidade de nos afirmarmos como importantes e necessários, de salvarmos o irreparável. Mais do que recordar momentos históricos ou contar histórias reais, talvez seja precisamente isto que os filmes que retratam eventos trágicos da história recente pretendem ser. Um veículo para a nossa própria fantasia de querermos ser os heróis, de acharmos que se lá estivéssemos, de alguma forma a história seria contada de outra forma. Patriots Day pretende usar a figura da Lei, no retrato de um homem comum e com defeitos, mas com traços de herói, para recontar a tragédia do atentado terrorista na Maratona de Boston, em 2013.

Embora os minutos iniciais sejam auspiciosos, com uma câmara a fazer lembrar a estética de Paul Greengrass, rapidamente percebemos que longe da tendência orgânica do autor de United 93, a câmara ao ombro de Peter Berg, não é mais que uma câmara que treme muito para nada. Apenas para reforçar uma ideia de found footage, que não consegue eliminar nunca a sua artificialidade, nem distanciar-se da mera reconstituição dos factos. Uma reconstituição sobretudo mediática, filmando tudo com uma violência gráfica, carniceira e abusiva, que continua ao longo da narrativa. E embora como opção de autor pudesse ter resultado, Berg não consegue nunca demarcar-se da imagem de um tarefeiro, adepto de explosões e sem grande espaço para ideias próprias.

Mark Wahlberg enquanto Tommy Sanders é precisamente a tal figura com que se espera que o espectador se identifique. O homem errante e problemático, que cometeu erros no passado e que espera pela oportunidade de redenção. E que em face aos atentados assoma-se-lhe o espírito do herói incansável, pela determinação de fazer "justiça", mas apenas e só, pela captura dos terroristas, como forma de tornar o mundo melhor. Embora a interpretação do actor não seja de todo incompetente, o seu retrato peca pela unidimensionalidade da personagem. Facto transversal a todo o filme, onde seria mais interessante isolar uma daquelas histórias de vítimas reais (e não só como acessórios a puxar ao melodrama) ou até e especialmente, focar-se nos terroristas, nunca os reduzindo ao estereótipo religioso e racista.

Não obstante, o filme ter um trabalho de investigação e reconstituição interessantes, nem que seja pela nossa tendência de voyeuristas, Patriots Day nunca deixa a sua visão patriótica e panfletária. Uma propaganda nacionalista, que não dá margem para uma discussão politicamente sustentável e sem ideias preconceituosas. Sobretudo, mantém sempre uma ideia oportunista de explorar as vítimas reais, de uma forma hipócrita e que funcionaria melhor se assumisse as suas ideias políticas (como American Sniper fez) ou tomasse forma num documentário dramático. Ainda que a espaços consiga surtir emoções no espectador, nem o realizador nem os argumentistas são capazes de escapar à ideia de filme-tributo, com ideias inconsequentes.

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