segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O Casamento de Rachel, por Carlos Antunes




Título original: Rachel Getting Married (2008)
De: Jonathan Demme
Escrito por: Jenny Lumet
Com: Anne Hathaway, Rosemarie DeWitt, Debra Winger e Jerome Le Page

Há uma contangiante energia no Casamento de Rachel que, no final, é também a causa do nosso descontentamento.
Enquanto Rachel se casa numa cerimónia incomum mas certamente sedutora, Kym, a sua irmã, volta a casa vinda de 9 meses de Reabilitação.
Ela parece anunciar-se como a perturbação ao idílio, ela que sempre foi a "ovelha negra" da família.


Mais do que um choque de personalidades, este é um choque de percepções e de tormentos silenciados.
Isso mesmo é magnificamente ilustrado pela entrega de Anne Hathaway (Kym) que tem o luxo de se poder destacar quando a seu lado tem uma Rosemarie DeWitt (Rachel) compondo com descrição mas absoluta sagacidade uma personagem secundária de luxo.
Seja por uma espécie de penitência auto-imposta ou sentida nas vidas dos outros, Kym sofre admiravelmente, enquanto Rachel não consegue deixar de tentar resgatar a sua família das maneiras que acha possíveis.


Há uma realidade honesta e desarmante sentida por cada espectador neste filme.
Os convidados parecem-nos existir, parece-nos que não podem senão ser reais e chamados a presenciar aquele momento. É o poder da invisibilidade do casting, tão fundamental até nas personagens que, sem nenhum pedaço de diálogo verdadeiramente dramático, não poderiam deixar de estar ali e criar o ambiente.
Como em todas as famílias, há assuntos por resolver e reacções demasiado profundas para não serem como uma onda que a todos toca.


E aí está...
O drama liderado com silenciosa dor, vai deixando o seu travo amargo por entre a vibração, a música, a cor, a felicidade.
Enquanto uma família se cria, uma outra desfaz a sua muralha de aparência e de aparente serenidade.
Toda aquela energia, por mais que queiramos, também nos doi, porque temos menos dela do que do drama que, felizmente, não a consegue corromper!


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