domingo, 31 de janeiro de 2010

O Sítio das Coisas Selvagens, por Carlos Antunes

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Título original: Where the Wild Things Are
Realização: Spike Jonze
Argumento: Spike Jonze e Dave Eggers
Elenco: Max Records, Pepita Emmerichs e Catherine Keener Vozes de James Gandolfini, Paul Dano, Catherine O'Hara, Forest Whitaker, Michael Berry Jr. e Chris Cooper

Max escapa para uma ilha repleta de criaturas. Mas será a fuga real ou apenas um escape da sua imaginação?
Afinal Max sai a correr de casa e quando eventualmente retorna compreendemos que esteve realmente ausente durante um largo período, capaz de o deixar esfomeado e a mãe cheia de preocupações.
Mas a única consciência que temos é da forma como a fuga se concretiza para a realidade consciente de Max.

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Ele escapou para um lugar onde todas as atitudes libertárias são possíveis mas onde acaba a reconstruir o modelo relacional que conhece.
As criaturas que o tomam por rei não se satisfazem com a forma das relações, algo ténues na sua essência de brincadeira infantil, ainda que repletas das mais honestas emoções que interligam qualquer género de família, da ternura ao confronto.
Há uma crescenta exigência que advém da responsabilização, do aumento das necessidades.
E a isso não se pode dar resposta através da persistência do modelo antigo, nem da falta de compromisso das partes envolvidas.
O drama de Max perante as criaturas que o acolhem é o mesmo que vislumbrámos existir no seio da sua família.

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O que Max vive não é um processo de amadurecimento, pois ele voltará a existir como criança, dependente da mãe e inocente como antes.
É um processo de entendimento que lhe permitirá melhor enfrentar o mundo a que tem de voltar.
Ele perceberá o peso da responsabilidade que é inerente aos pais de qualquer família que não está perfeitamente definida na sua estrutura emocional e hierárquica.
No fundo ele aprenderá pela força da sua jovem rebelião a importância daquilo que já possui na sua casa.
Às crianças deve ser permitido serem crianças, pois em vez de se correr o risco de as perder, corre-se o risco de as verdadeiramente conquistar.

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Só que a realização de Spike Jonze é esbatida, eficaz mas raramente relevante para a essência do filme.
Algo que estava relativamente mascarado pelo facto de os argumentos de Charlie Kaufman estarem repletos de ideias que exigem muito do espectador.
O mesmo com os seus videoclips que eram, na essência, conceitos visuais, mesmo quando continham uma narrativa.
Mas perante a necessidade de trazer ideias cinematográficas relevantes a um filme como este, Jonze limita-se a seguir o guião e a contentar-se com preencher o ecrã com as belas criações da The Jim Henson Company.

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Essas criações são tão deliciosas que se torna fácil gostar do filme só à conta deles, mesmo quando a narrativa parece caminhar em certos momentos sem destino.
Perfeitamente construídas com um aspecto genuíno e artesanal, tornando-os credíveis como criações da mente de Max.
Elas são aquilo que podemos entender como a compensação pela insonsa realização de Spike Jonze.


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