quarta-feira, 31 de março de 2010

Millenium 2 - A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo, por Tiago Ramos



Título original: Flickan som lekte med elden (2009)
Realização: Daniel Alfredson
Argumento: Jonas Frykberg e Stieg Larsson
Elenco: Noomi Rapace, Michael Nyqvist, Georgi Staykov e Micke Spreitz

Se no primeiro tomo da adaptação da trilogia Millennium aos cinemas poderíamos falar num filme que quebrava clichés e uma profundidade incomum para um policial, este segundo capítulo acaba por cair em todos os erros que não tinha cometido em Millennium 1 – Os Homens que Odeiam as Mulheres.

O principal motivo para tal descida drástica em qualidade e intensidade prende-se com o facto de esta sequela ter sido originalmente pensada para ser exibida apenas em televisão e com isso perdeu em orçamento, o que se denotou na qualidade técnica dos efeitos especiais nas cenas de acção. Encontramos cenas ridículas, excessivamente artificiais – note-se a cena de luta no armazém entre Paolo e o enorme Ronald ou a cena final no barracão entre Lisbeth e Zala. E isso não se perdoa numa trilogia de respeito como esta. O sueco Daniel Alfredson realiza como se de um telefilme se tratasse – no final de contas até o era – e isso no grande ecrã não funciona, fazendo com que Millenium 2 - A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo perca intensidade.

A sequela acaba por fazer uso excessivo de flashbacks do primeiro filme e perde em suspense – factor primordial no primeiro filme – o que acaba por ter como consequência o arrastamento da narrativa adaptada ao cinema, rodeada de previsibilidade. O argumento assinado por Jonas Frykberg não consegue transmitir a complexidade e interesse do livro que lhe deu nome e ao decidir dar ainda mais impacto e tempo de ecrã à personagem de Lisbeth Salander, explora muito menos as relações entre as personagens, nomeadamente entre Lisbeth e Michael e entre Michael e Erika.

Contudo, Millenium 2 - A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo mantém o arrojo com que retrata situações socialmente incómodas, como a corrupção, o tráfico de mulheres e outras situações abusivas contra o sexo feminino. Mesmo as cenas de sexo, incluindo o sexo entre mulheres, são retratadas de uma forma muito íntima e natural, como nunca o seriam numa produção de Hollywood. E nesse sentido, o cinema sueco e esta sequela continuam de parabéns.

A nível de elenco mantém-se a boa qualidade, nomeadamente de Noomi Rapace – nesta sequela conhecemos uma fase mais íntima e dócil - que continua a arrancar o fabuloso desempenho a cada frame e que faz desta sequela um one woman show, bem como do racional Michael Nyqvist, cuja composição de consegue sempre equilibrar o sentido de lógica e a motivação impulsionada pela relação complexa da sua personagem com a hacker Lisbeth. Ou ainda Georgi Staykov, que apenas surge nas cenas finais, mas que surpreende e consegue intimidar em todo o mistério envolvente. E temos também Micke Spreitz numa prestação quase sem diálogos, mas corporalmente intensa e intimidante.

Este segundo capítulo é claramente mais fraco que o seu antecessor e desilude bastante. Perde intensidade, complexidade e interesse. Torna-se ridículo em algumas das cenas e bastante previsível. Contudo, tem sempre esta aura de thriller mais negro que o habitual e que se distancia das cansativas super-produções norte-americanas. E aí é positivo.

Classificação:

8 comentários:

  1. Estás um mãos largas, tu... Eu dava-me vontade de dar 1,5 só pela estupidez deles, fizeram-me gostar tanto do primeiro e depois fazem esta coisa a que chamam filme... Não fosse a Noomi Rapace e isto era um desperdício de tempo.

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  2. É muito fraco de facto e ainda indeciso pelo 2,5 dei meio valor a mais precisamente por, mesmo assim, distinguir-se das produções americanas.

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  3. Oh bolas... O primeiro filme foi, para mim, uma das surpresas do ano (visto o cinema sueco não ser uma constante da minha cinemateca) e agora venho aqui confirmar que, afinal, a sequela não está à altura do filme a que sucede :(
    Mais uma ida ao cinema cancelada... Esperemos que o terceiro (caso o haja) coloque isto novamente nos carris, embora pelo que li aqui as esperanças sejam já bastante diminutas.

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  4. Não tenho a certeza se, de facto, valerá ou não a ida ao cinema. Depende dos gostos, mas se esperas algo ao nível do primeiro, esquece.

    O terceiro filme já está de facto feito e já estreou na Suécia, não sabemos é quando chegará a Portugal, mas eu apostava para o início de 2011 ou ainda no final deste ano. Depois tens ainda o remake que está a ser preparado por David Fincher e já se fala em Carey Mulligan para o papel de Lisbeth Salander.

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  5. Hmmmm... "Remake" de Hollywood não me convence - aliás, são raros aqueles que me convencem -, mas se o David Fincher anda metido nisso, então eu deixo o meu cepticismo fechado numa caixa, por enquanto :)

    Se o terceiro filme estiver ao nível do primeiro (ou lá perto, pelo menos, afinal não se pode exigir muito de sequelas) eu vou ao cinema vê-lo. Este segundo, precisamente por essa razão, não vale o preço do (meu) bilhete. A ver vamos...

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  6. De facto nem a mim, mas David Fincher e Carey Mulligan são nomes que me convencem o suficiente. Vamos esperar...

    Pois, o IMDb - não quer dizer necessariamente nada - classifica-os com as seguintes notas: 7,6 / 6,6 / 6,8. Isto do primeiro para o terceiro...

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  7. Qualitativamente em relação ao 1º filme, esta sequela não está ao nível magistral mas mesmo assim gostei muito dele.
    Aprofunda muita da psique da Lisbeth e dá uma nova luz a certas partes do 1º filme que ficaram em aberto.

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  8. A mim desiludiu-me bastante! Mas achei interessante conhecer esta faceta da Lisbeth Salander, já que ainda não li os livros.

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