sexta-feira, 25 de junho de 2010

LOST: The End (6.17+6.18)

"Everyone dies sometime, kiddo."

O episódio final da série foi também o melhor episódio de LOST. Um final como a própria série e que abordou a fundo as suas temáticas centrais, confrontando os espectadores com as suas próprias convicções acerca da série. "Man of Science, Man of Faith" é uma expressão que não representa só a história de Jack, nem os confrontos entre Jack e Locke, Jacob e o irmão ou a Dharma e os Others. Para uns, LOST terminou como uma série que apresentou mistérios sem resolução e para os quais não conseguem encontrar uma explicação aceitável. Para outros, o final apresentou uma resolução gratificante para a história dos personagens que acompanharam ao longo de 6 temporadas neste local misterioso. No fundo, ambos os pontos de vista são válidos. Afinal, a discussão lançada entre os espectadores, que se irá manter sempre que a série seja referida, é também a discussão apresentada no enredo de LOST, culminando na morte de dois personagens centrais: a frustração de John Locke, que morre sem compreender o motivo pelo qual viveu, é oposta à felicidade de Jack, que se sacrificou sem questionar os fenómenos que observou.

Sideways

O episódio abre com uma brilhante montagem da chegada de Christian Shephard ao aeroporto de LAX e o seu transporte até à igreja, intercalado por imagens dos vários personagens nos flash-sideways e o seu presente na Ilha. Há um forte contraste entre as vidas banais dos personagens neste mundo e a tensão resultante das acções do Black Smoke.

Após a revelação feita no final do episódio relativamente à verdadeira natureza dos flash-sideways, não só se justifica esta introdução com a chegada do caixão, mas também toda esta história recebe um novo significado. Não se trata de uma realidade paralela criada pela detonação da Jughead, como teria sido insinuado por uma série de eventos, mas sim de um lugar onde as almas daquelas pessoas tiveram a oportunidade de se redimir e reunir depois da morte, antes que pudessem partir para o que possa eventualmente haver a seguir. Apesar deste local representar as suas vidas em 2004, o "acordar" de cada personagem relembrava-o de acontecimentos ocorridos muito mais tarde – uma estranha inconsistência caso fossem realidades paralelas, mas algo que faz todo o sentido numa vida após a morte.

Kate observa a chegada do caixão e diverte-se quando Desmond lhe diz que pertence a uma pessoa chamada Christian Shephard. É realmente um trocadilho óbvio, mas um nome adequado ao papel que lhe é atribuído no final. Kate pergunta a Desmond o que se passa e por que motivo se encontra naquele local, mas este responde-lhe de forma misteriosa, dizendo-lhe que ninguém lhe pode dizer porque se encontra naquele local. O escocês revela que pretende abandonar esse local, e que não irá dizer a Kate o que se passa, mas mostrar-lhe. Provavelmente, ninguém aceitaria a a revelação de que estaria morto, sendo esta uma descoberta que compete apenas à própria pessoa. Compreende-se assim o empenho de Desmond em acordar este grupo de pessoas que acreditam ser meros desconhecidos.

Hugo leva Sayid até ao motel onde estiveram em vida, no episódio "Because You Left" (5.01), mas mostra-se desiludido ao ver que este não se recorda de nada. No motel, não consegue esconder a felicidade em rever o seu amigo Charlie. Hugo diz-lhe que pretende levá-lo para o concerto e, quando este se recusa, usa o tranquilizante para o levar inconsciente para o local. À saída do museu, Miles repara em Sayid e avisa James que o suspeito fugiu e a sobrevivente do tiroteio (Sun) pode estar em perigo, pelo que este decide ir visitá-la ao hospital.

Entretanto, Jin e Sun preparam-se para a consulta com a obstetra do hospital, para verificar o estado da gravidez. A médica que os atende é Juliet e, ao fazer a ecografia a Sun, recorda-a do momento semelhante que as duas viveram no interior da estação Caduceus da Dharma Initiative. Jin, ao ver a imagem da filha no monitor, tem o seu próprio "despertar". O casal recupera completa memória da sua vida passada, incluindo o conhecimento da língua inglesa. Juliet pergunta se querem saber o género da criança, mas estes já sabem que é uma menina, chamada Ji-Yeon.

Juliet é a mãe de David, esteve casada com Jack mas, após o divórcio, mantiveram uma relação saudável. Apesar deste filho nunca ter existido em vida, a sua existência neste mundo foi fundamental para que Jack pudesse superar os seus problemas parentais e trazer a Juliet uma compensação por todos os problemas de fertilidade que teve de enfrentar, assim como o facto de ter trazido muitas crianças ao mundo sem que nunca tivesse sido mãe. A atitude de David em relação ao pai indica também que poderia ter conhecimento relativo à natureza desta realidade, visto que muitas vezes serviu como um fio condutor e uma base de apoio para Jack. Como Jack não poderá estar presente no concerto, sugere a David que leve a sua tia Claire consigo. Juliet e o filho dirigem-se ao elevador e cruzam-se com James, mas não se reconhecem. No entanto, quando chega ao museu onde irá decorrer o concerto, Juliet recebe uma chamada do hospital e vê-se obrigada a deixar David e Claire.

A temática da vida e morte está bastante presente quando Jack se prepara para operar John Locke. O paciente lhe diz ter esperança que a chegada do caixão de Christian lhe traga alguma paz, Jack responde que teria a paz necessária caso o curasse. O sentido metafórico desta troca de palavras será evidenciado na cena que encerra o episódio – Jack só terá a paz necessária quando reencontrar o próprio pai.

Nessa noite, Hugo e Sayid estão parados num beco por trás de um bar, quando uma briga é desencadeada na rua. Hugo tem palavras sábias acerca da natureza do amigo, que o convencem a ajudar uma rapariga que está a ser agredida. Para surpresa de ambos, Shannon e Sayid reconhecem-se e recuperam as memórias da vida anterior. É natural que Shannon tivesse esta reacção ao encontrar Sayid, o homem que lhe deu um propósito e lhe soube dar o devido valor. Em toda a sua vida, Sayid viveu obcecado com Nadia, excepto nos tempos que passou com Shannon. No entanto, após a morte, o seu destino com Nadia estava condenado à separação – esta era agora a mãe dos seus sobrinhos, tudo porque Sayid nunca se sentiu digno do seu amor. Mas Shannon foi a pessoa que lhe trouxe um equilíbrio emocional após os conflitos com os restantes sobreviventes do voo 815, alguém por quem Sayid se estava a apaixonar verdadeiramente, e que este viu morrer nos seus braços.

O concerto está prestes a começar e, nos bastidores, Charlotte acorda Charlie para a sua actuação. Enquanto procura o resto da banda, depara-se com Daniel e este mostra-se feliz por conhecê-la. Não ocorre o seu despertar, mas o encontro indica que este não irá tardar. O público senta-se nos respectivos lugares e Kate é levada com Desmond para a mesa 23 (o número associado ao nome Shephard) e fica surpreendida ao encontrar Claire. O espectáculo começa, e Charlie apercebe-se de Claire na audiência, olhando-a fixamente. Esta começa a sentir contracções e dirige-se à casa de banho, sendo seguida por Kate que se mostra preocupada. Eloise aborda Desmond e pergunta por que motivo este decidiu despertar as outras pessoas, mas a sua verdadeira preocupação é se este tenciona também despertar o seu filho. Daniel não será levado com Desmond, o que deixa Eloise tranquila por poder aproveitar mais tempo com o seu filho. O facto desta estar consciente desta realidade traz um novo significado ao alfinete de peito que usava em Happily Ever After (6.11), justificando também a sua atitude.

Nos bastidores, Claire entra em trabalho de parto e, tal como aconteceu na Ilha, Kate é a única pessoa que a pode ajudar e pede a Charlie que vá buscar toalhas. O nascimento de Aaron provoca em Kate e Claire a recuperação das memórias da vida passada, o que enche as duas de felicidade. Charlie chega com as toalhas e Kate pede-lhe que as entregue a Claire, o que faz com que este tenha também o seu despertar. A reunião do casal é um dos momentos mais emocionais do episódio e oferece a catarse necessária após a morte trágica de Charlie na terceira temporada. Desmond chega ao local e pergunta a Kate se compreende o que se passou, esta pergunta-lhe apenas o que acontece a seguir.

No hospital, uma enfermeira repara na ferida no pescoço de Jack, que este ganhou durante o confronto com o Black Smoke e agora se evidencia nesta realidade. A operação a John Locke correu bem, mas o paciente recuperou os sentidos demasiado depressa, apesar da anestesia. Jack pede-lhe que descanse, mas John diz conseguir sentir as suas pernas e movimenta o pé esquerdo, tal como quando acordou na Ilha após a queda do Oceanic 815 – despertando assim para a natureza desta realidade. John não guarda ressentimento por Jack, está feliz por tê-lo reencontrado e por ter sido este a despertá-lo. Jack tem a visão de uma memória da Ilha, mas não está preparado para aceitar o que viu e diz que o paciente precisa de repousar, afirmando ter de ir encontrar-se com o filho. John responde-lhe com a perturbadora verdade de que este não tem um filho, mas diz esperar que alguém faça por ele o que Jack fez a John.

James questiona Jin e Sun sobre o Sayid, mas o casal não está preocupado com o que este possa fazer. Jin não consegue esconder a alegria em rever o amigo, mas James está confuso com toda a situação. No corredor do hospital, cruza-se com Jack e pergunta onde poderá encontrar uma vending machine, e sente conhecer Jack, sem saber de onde. Na máquina, tenta tirar uma barra de chocolate Apollo, que acaba por ficar encravada. Juliet depara-se com James a tentar tirar o chocolate à força, e ensina-lhe a técnica de desligar a máquina da corrente – as luzes do hospital vão abaixo, mas o chocolate cai. Juliet dá-lhe o chocolate e diz "It worked". As mesmas palavras que deram a entender que esta seria uma realidade paralela criada pela Jughead, servem agora para provar o contrário: Juliet referia-se apenas à vending machine. Ao tocarem-se, ambos sentem memórias da vida anterior. Impressionada pela reacção, Juliet convida-o para um café, estabelecendo a mesma troca de palavras do casal no momento da sua morte, o que despoleta o despertar completo do casal, que está finalmente reunido. É um dos reencontros mais esperados da série e um dos momentos mais intensos do episódio, mas é também o momento em que o espectador se questiona sobre a natureza deste mundo que os personagens estão agora a descobrir.

Jack chega atrasado ao concerto e já todos foram embora. É Kate quem o encontra e Jack pensa reconhecê-la. Está dá por resposta que se cruzaram no avião, mas não é daí que se conhecem, tocando-lhe no rosto. Jack tem novamente uma visão da vida passada, mas algo o impede de despertar e não compreende o que se passa. Kate diz ter sentido imensas saudades dele – por toda a vida que passou após a sua separação na Ilha – e promete dar-lhe respostas se a acompanhar. Kate deixa-o em frente à igreja para onde o caixão de Christian Shephard foi levado, a mesma igreja onde se encontraram em vida para descobrir uma forma de regressar à Ilha.

Realidade
Jack acaba de se tornar o protector da Ilha, o sucessor de Jacob. Não se sente diferente, nem com poderes especiais, mas conhece agora o seu propósito. Jacob revelou-lhe o local onde poderia encontrar o "coração" da Ilha, muito perto do local onde Jack acordou após a queda do Oceanic 815. Jack revela aos companheiros que há uma luz que deve ser protegida e o monstro quer apagar – James conclui que o monstro só ainda não o fez porque precisa de Desmond para isso, decidindo assim ir procurar o poço onde este possa estar preso. O monstro chegou primeiro ao local, juntamente com Ben, mas Desmond desapareceu. James encontra-os e revela conhecer o plano de Black Smoke para destruir a Ilha, assim como o facto de Jacob ter conseguido encontrar um sucessor. Ben fica surpreendido com a descoberta de que o monstro tenciona destruir a única coisa que lhe resta, mas este despreza-o e segue as pegadas do Vincent, que encontra junto ao poço.

Desmond foi salvo por Rose e Bernard, que vivem na cabana isolada que construíram nos anos 70. A detonação da Jughead trouxe-os de volta ao tempo "correcto", mas optaram por se manter afastados de qualquer conflito. Ao trazer Desmond para a cabana, quebraram a sua própria regra e acabaram por sofrer a consequência de receber a visita do monstro. Smoke ameaça matá-los caso Desmond não o acompanhe, pelo que este exige a sua palavra de que não lhes irá tocar caso o ajude. Juntamente com Ben, Smoke leva-o pela floresta e Desmond dá a entender conhecer a luz que existe na gruta – a mesma a que foi exposto pela experiência de Widmore e que lhe deu a conhecer o mundo visto nos flash-sideways.

Entretanto, Miles tenta contactar Ben para o informar de que Richard está vivo, mas não o consegue fazer. Richard acorda empenhado em destruir o avião para que o monstro não possa fugir da Ilha e, assim, procuram uma canoa e dirigem-se para a ilha Hydra. Miles apercebe-se que Richard tem um cabelo branco, o que o surpreende bastante. Embora já tivesse sido mostrada a diferença no comportamento de Richard após a morte de Jacob, fica agora claro que este perdeu a sua imortalidade e, ao descobri-lo, ganha agora uma nova vontade de viver. A caminho da pequena ilha, encontram os detritos largados pela destruição do submarino, onde ouvem Lapidus pedir por ajuda. O piloto sobreviveu e dá-lhes agora uma alternativa à destruição do avião: serem eles próprios a fugir antes que o monstro o possa fazer.

Jack decide ir com os companheiros ao encontro de Black Smoke, e os grupos acabam por se cruzar numa clareira. Kate dispara contra o monstro, mas não fazem qualquer efeito e este goza-a, dizendo para poupar as suas balas. Smoke percebe imediatamente que Jack é o protector da Ilha e ironiza com o facto deste ser a escolha óbvia, mas Jack revela ter sido o próprio a decidir aceitar o cargo. No entanto, Jack não tenciona impedi-lo de chegar ao coração da Ilha, mas sim provocar a sua morte nesse local, confiante que Desmond será a chave para o conseguir. Quando se aproximam da gruta, o monstro exige que apenas Jack e Desmond prossigam, deixando assim Ben, James, Kate e Hurley para trás. Enquanto Smoke prepara a corda para descer Desmond ao interior da caverna, este comenta com Jack que este mundo não é importante, pois viu um outro onde o voo Oceanic 815 nunca se despenhou e todos pareciam mais felizes. Jack responde já ter tentado isso anteriormente, e foi essa tentativa que lhe fez compreender que tudo o que acontece na vida é importante, não é possível voltar atrás e fazer o passado de forma diferente.

Smoke e Jack descem Desmond ao interior da gruta, numa situação semelhante ao final da primeira temporada em que Locke e Jack observam o interior da estação da Dharma onde Desmond carregava de 108 em 108 minutos no botão. O monstro serve-se da imagem e das memórias de Locke para lembrar Jack desta mesma situação, mas Jack reage negativamente. Para Jack, Black Smoke ofende a memória de John Locke por servir-se da imagem do homem que, afinal, estava certo em relação a quase tudo o que aconteceu na Ilha. O monstro responde-lhe que está errado em relação a tudo isso, a prova será o momento em que a Ilha se afunde. Jack e Smoke têm expectativas opostas em relação ao que irá acontecer quando Desmond chegar ao coração da Ilha, ambas diferentes daquilo em que o escocês acredita.

No interior da gruta, Desmond encontra esqueletos de pessoas que, eventualmente, terão tentado aproximar-se da luz. O mecanismo que encontra encaminha a água para o interior de um lago artificial de onde esta luz é emanada, redireccionando-a depois para diversos canais que irão dar a diferentes pontos da Ilha. No centro do lago, uma pedra inscrita por diversos símbolos mantém o mecanismo em funcionamento, controlando a energia. A arquitectura e as inscrições na pedra indicam que esta seja a estrutura mais antiga vista na série e terá sido construída pelo menos um milénio antes do nascimento de Jacob e o irmão [fonte]. O sistema ancestral sustenta toda a Ilha e representa a purificação, explicando o motivo pelo qual a água no Templo tem poderes curativos, sendo canalizada a partir daquele local, e o irmão de Jacob se transformou num monstro de fumo – as trevas que lhe preenchiam a alma foram destiladas, separadas do corpo e devolvidas ao exterior.

Desmond entra no lago e sente a energia com grande intensidade, apesar de ter passado já por duas fortes descargas electromagnéticas. Ao retirar a pedra do centro do lago, a metáfora da rolha utilizada por Jacob em "Ab Aeterno" (6.09) é evidenciada pela forma como a água escoa pelo orifício. A circulação de água é interrompida e a luz desvanece, como sendo desligada. Com o escurecer da caverna, ouvem-se sons semelhantes aos do monstro de fumo e surge uma luz vermelha do interior do orifício no centro do mecanismo, seguida de uma coluna de vapor de água, enquanto por toda a Ilha se sentem fortes abalos. Desmond constata que estava errado e não foi parar ao "outro mundo" que viu durante a última exposição à energia e, à entrada da gruta, Black Smoke congratula-se e diz a Jack que estava errado em relação ao que aconteceria, virando-lhe costas. Jack corre atrás do monstro e agride-o, fazendo-o sangrar. Smoke apercebe-se da sua fragilidade e Jack diz-lhe que também ele se tinha enganado, mas o monstro deixa-o inconsciente com uma pedrada na cabeça e foge, incapacitado de se transformar em fumo. Ao desligar o mecanismo, Desmond anulou também todas as propriedades especiais concedidas por esta energia. Que todos os personagens estivessem de alguma forma errados acerca do que aconteceria, é um bom retrato das expectativas dos espectadores da série em relação ao final.

Entretanto, Ben contacta Miles via rádio e fica, assim, a par do plano de fuga no avião da Ajira. Ao ver Richard, Miles e Lapidus chegar à ilha Hydra, Claire teme que lhe queiram fazer mal, mas estes explicam as suas intenções e convidam-na a juntar-se ao grupo. Claire, no entanto, recusa a oferta e fica na praia, infeliz. O avião sofreu alguns danos durante a aterragem e o trio trabalha apressadamente nos reparos, quando o primeiro abalo se faz sentir. Na ilha principal, uma árvore cai na direcção de Hurley, que é salvo por Ben, mas é este quem acaba por ficar preso sob o tronco pesado da árvore. O grupo quer fugir, mas Hurley insiste que ajudem Ben e conseguem retirá-lo, quando Miles os contacta dizendo que têm no máximo uma hora para fugir no avião. Ben sabe onde o monstro tem um barco e conduz o grupo até ao local.

Smoke dirige-se ao local onde deixou o barco preparado para fugir, mas é seguido por Jack. O plano de câmara no momento do encontro é marcado pelo nível da água e a inclinação do terreno, que marca a posição de cada um na história e (metaforicamente) a descida que Jack terá de fazer para confrontar o seu adversário. Os dois confrontam-se violentamente, mas Smoke acaba por levar a melhor e cravar uma faca no abdómen de Jack, o que o deixa vulnerável. Jack tenta resistir enquanto Smoke lhe diz que irá morrer em vão, e começa a cravar a faca no seu pescoço (causando a ferida visível nos flash-sideways), mas é salvo por Kate, que enfia a sua última bala nas costas do monstro. Paralelamente ao que Smoke fez quando Ben cravou a sua faca no peito do Jacob, Jack empurra o adversário com o pé e atira-o abaixo do penhasco. Este bate com as costas num rochedo e morre, numa posição idêntica à de Locke, quando foi atirado abaixo de um prédio pelo próprio pai.

O tempo escasseia e a Ilha está perto do fim. Jack sabe que precisa de repor o equilíbrio na Ilha e recusa-se a fugir, mas espera que os companheiros o consigam fazer, embora Ben se recuse a abandonar a Ilha e Hurley decida ficar por não conseguir chegar até ao barco. James despede-se de Jack e Kate espera voltar a vê-lo novamente – declarando finalmente o seu amor, que este lhe retribui. Juntamente com Ben e Hurley, Jack dirige-se novamente ao coração da Ilha, deixando Kate para trás, que sofre com a separação. James e Kate atiram-se ao mar do alto do penhasco e nadam até ao barco, dirigindo-se à ilha Hydra.

Antes de se dirigir ao interior da gruta, Jack decide passar o testemunho a Hurley, convencido que não irá regressar. Hurley não quer que Jack vá sozinho, nem quer aceitar o cargo, mas Jack argumenta que não há outra escolha possível. Com uma garrafa velha da Oceanic cedida por Ben, Jack passa-lhe um pouco de água carregada com o fardo da protecção da Ilha. Hurley não sente nenhuma diferença, mas Jack garante-lhe que agora o amigo é como ele que, por sua vez, era como o Jacob. Hugo é o novo protector da Ilha.

Chegados à ilha Hydra, James e Kate encontram Claire na praia, enquanto Lapidus consegue ligar os motores do avião. Claire não quer regressar ao mundo exterior, pois teme o facto de não conseguir relacionar-se com o filho. Kate compreende-a, mas acaba por convencê-la de que, juntas, serão capazes de o criar e serem felizes. O grupo corre na direcção do avião e, ao vê-los, Lapidus faz com que consigam entrar antes de iniciar a descolagem. Kate, James, Claire, Richard, Miles e Lapidus fazem o grupo de 6 pessoas que conseguem escapar juntos da Ilha. Em paralelismo com os Oceanic 6, este será o grupo conhecido como Ajira 6. James tem uma filha com Cassidy, Kate e Claire têm Aaron para criar e Richard dá agora um novo valor à sua vida enquanto mortal. Mais nada é conhecido acerca das suas vidas, a não ser o facto de que conquistaram a oportunidade de viver e procurar a felicidade. Mas Kate admitirá após a morte ter sentido a falta de Jack até ao fim da sua vida.

Entretanto, Ben e Hugo descem Jack ao interior da caverna, uma emblemática e quase literal descida ao Inferno. Jack encontra Desmond ainda vivo e amarra-o à corda onde seria suposto regressar, despedindo-se dele com um "I'll see you in another life, brother". De seguida, dirige-se ao mecanismo e, com bastante esforço, coloca a pedra de novo no lugar. A água começa a circular de novo na Ilha, descendo ao interior da gruta e enchendo o lago, reactivando a energia electromagnética. Jack ri-se ao ver o mecanismo em funcionamento, um riso carregado com a sensação de que todo o esforço e sacrifício valeu a pena, um riso de quem afinal tinha razão e, acima de tudo, o riso do homem incrédulo que deu um salto de fé e acabou um dia por salvar o mundo com apenas uma pedra... Enquanto o seu corpo é envolvido pela água, Hugo e Ben sobem a corda para descobrir que era Desmond que vinha amarrado e Jack, heroicamente, se sacrificou.

Epílogo
A sequência final começa nos flash-sideways quando Locke se dirige, na cadeira de rodas, à igreja onde todos os personagens irão aguardar a chegada de Jack. Locke pára junto a Ben, que está sentado num banco no exterior e lhe diz que a maioria das pessoas já chegaram. Ben pede-lhe perdão por tudo o que lhe fez, admitindo ter sido egoísta nessa altura e ter invejado o facto de John ser especial. John perdoa Ben, o que é muito importante para que este consiga ter alguma paz, mas não o suficiente para se juntar aos restantes na igreja. Ben precisa ainda de se redimir com a filha Alex e sua mãe, Danielle Rousseau. John afasta-se em direcção à igreja, mas Ben diz-lhe que já não necessita da cadeira de rodas. John levanta-se e afasta a cadeira para trás, despedindo-se de Ben.

Na Ilha, Hugo pergunta-se o que irá fazer agora que Jack morreu e ficou como protector da Ilha. Ben recomenda que faça aquilo que sabe fazer melhor – ajudar as pessoas – e que comece por ajudar Desmond a sair da Ilha e voltar para a sua família. Ben explica-lhe que é agora Hugo quem faz as regras, e que este pode gerir a Ilha de forma bem melhor do que Jacob alguma vez fez. Hugo propõe-lhe, então, que o ajude como "Número 2", algo que Ben aceita como uma honra. Não se sabe durante quanto tempo estiveram na Ilha mas, na igreja, a sua última troca de palavras dá a entender que mantiveram os cargos por bastante tempo. Hugo vem ao exterior avisar Ben que estão todos no interior, mas este diz que não irá entrar. Hugo despede-se dizendo que ele foi um excelente Número 2 e Ben responde que Hugo foi um grandioso Número 1.

Na sequência final do episódio, transita-se para a perspectiva de Jack, numa sequência monumental que acompanha os momentos finais do personagem nos dois mundos. O seu sacrifício no coração da Ilha poupou-o ao destino dado ao irmão de Jacob, devolvendo-o ao mesmo local mas ainda com vida. Jack está gravemente ferido, mas cumpriu o seu destino. Com esforço, levanta-se e dirige-se ao local onde tudo começou. Na igreja, são visíveis ícones de múltiplas religiões, sejam pequenas figuras ou símbolos num vitral. Jack encontra o caixão do pai e aproxima-se com hesitação. Ao tocar-lhe, no entanto, recupera todas as suas memórias da vida anterior e recorda especialmente os momentos vividos na Ilha com a Kate. Jack está confuso com todas estas memórias quando decide abrir o caixão do pai, apenas para descobrir que este está vazio.

Christian surge nesse momento, para surpresa de Jack. Quando pergunta como é possível que ele esteja ali, o pai fá-lo compreender que também Jack está morto naquele mundo, o que o faz questionar se tudo aquilo será real. Christian não tem a certeza se este mundo pertence à "realidade", embora acredite que este último encontro com o filho seja real. Todas as pessoas que estão na igreja à espera de Jack morreram também – alguns antes, outros muito tempo depois de Jack. Este mundo não se encontra na linha do tempo, mas num tempo separado, onde todas as pessoas cujas vidas foram fortemente ligadas se podem agora encontrar antes de partir. O lema de Jack na Ilha sempre foi que deveriam viver juntos para não morrer sozinhos, mas Christian mostra-lhe que ninguém morre sozinho. Todas aquelas pessoas na igreja precisam umas das outras para relembrar a sua vida e continuar. Jack precisou de encontrar o seu pai em morte para se redimir de tudo o que lhe quis dizer em vida e dar-lhe finalmente o abraço que durante toda a série desejou poder ter dado.

Christian acompanha Jack até ao interior da igreja onde o aguardam todas as pessoas que marcaram a sua vida e cujas vidas se marcaram entre si. Locke recebe-o com um sorriso, todo o grupo se mostra feliz com o reencontro. Todos se abraçam e mostram-se felizes na sua derradeira despedida antes do que quer que seja que venha a seguir. A diversidade de elementos religiosos presentes na igreja mostra que este é um local para todos, independentemente das suas crenças – a diversidade cultural sempre foi também uma característica deste grupo. Jack encontra Kate, não com o vestido dado por Desmond, mas com uma roupa que lhe é bastante característica. Kate dá-lhe a mão e o casal senta-se no banco da frente, na mesma fila que John Locke. Christian coloca uma última vez a mão no ombro de Jack e dirige-se à entrada da igreja, onde abre a porta e revela uma intensa luz branca que envolve todas as pessoas no interior – "Nobody dies alone, Jack".

Na ilha, Jack atravessa o campo de bambu, cruzando-se pela sapatilha branca de Christian – ainda lá pendurada, mas bastante envelhecida. Jack chega ao local onde acordou 3 anos antes após a queda do voo 815 da Oceanic Airlines. Sem forças, deixa-se cair e vê Vincent aproximar-se, que lhe lambe o rosto e deita-se a seu lado. A inversão da sequência inicial é quebrada quando Jack observa, no céu, a saída dos Ajira 6. Jack sorri e sente que pode finalmente descansar. Está cumprido o seu papel – Jack irá agora para um mundo onde todos se poderão reunir. A câmara aproxima-se e a história encerra da mesma forma que começou.

– The End.

10 comentários:

  1. Adorei o texto, muito bom mesmo. Serviu para me relembrar com alguma nostalgia do final da melhor série que já vi. Até me esclareceu algumas dúvidas e pontas soltas deixadas então.

    Também não sou daqueles que desgostou do final, muito pelo contrário acho que foi coerente e digno perante a história que nos apresentaram e sobretudo pelas personagens, que acima de tudo é que sustinham o enredo e as emoções.
    É claro, que sendo também e de certa forma fã dos mistérios e da antiguidade da ilha, fiquei um pouco frustrado e insatisfeito com o rumo que tomaram, no entanto também me parece que foi inteligente não tomar partido algum, entre a fé e a ciência, tão discutida nestes últimos seis anos. Só tenho a dizer que a série já me faz falta, enquanto excelente e único entretenimento, até me arrisco a dizer que o argumento (com o final incluído) é de uma notável originalidade e frescura perante o ainda panorama actual.

    abraço

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  2. Obrigado Jorge!

    Pessoalmente, acho que o segredo para o fascínio pelos mistérios desta série é o facto de nunca nos ser revelado mais nem menos do que é contado aos personagens. Ao longo das 6 temporadas, fomos descascando a cebola, conhecendo várias pessoas que parecem "saber tudo" ou ter a "resposta". Ben, Widmore, Richard, Jacob, a mãe dele... até que chegamos ao centro da cebola e descobrimos que não houve ninguém na série capaz de explicar o que há realmente ali. Frustrante para uns, fascinante para outros.. tão verdadeiro entre os espectadores como entre os personagens da própria série. :)

    Abraço!

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  3. Após o final da série, vim ao blogue algumas vezes para ver aqui o resumo/explicação da série. E agora cá está. Parabéns pelo texto e obrigada!
    Madalena

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  4. Fiquei contente por ser o Hurley, acho que o argumento tendia mesmo muito para ele nos últimos tempos (pronto, tu sabes, eu insistia sempre que ia ser ele).

    O texto está muito bom para arrumar as ideias e pode ser que muita gente se convença que afinal a ilha não é um purgatório como muitos ficaram a pensar.

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  5. Eu adorei não só ter ficado o Hurley como guardião, mas também o destino dado ao Ben. Fiquei a torcer por esta dupla desde esta cena da quarta temporada: http://gallery.lost-media.com/displayimage-1403-489.html :)

    Obrigado Ana – penso que os que ficaram a pensar que a ilha era o purgatório fazem parte daqueles que defendiam desde o início que seria essa a resposta, aproveitaram a mínima deixa para justificar aquilo em que acreditavam... mesmo sendo negado pela própria série.

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  6. Como sempre bom artigo. Massivo e (até mesmo excessivamente) muito descritivo.
    Gostava mais da critica em jeito de reflexão, e que estivesse mais separada das descrição do episódio final mas está OK.

    O final da série foi muito bom. Aliás: os vários e sucessivos finais que o último episódio vai desfilando.
    É daqueles finais onde muito acontece e em vários níveis, mesmo sem ser como pretendíamos ou imaginávamos, facto que deixou á toa muita gente, eu incluído.
    Mas entendi e achei que foi a melhor solução. E realmente a série fez-nos acompanhar o epílogo desde o inicio da temporada e sem o sabermos.

    Quando chegou ao fim e o pai de Jack foi ao encontro da luz disse cá para mim: "Pronto! Só faltou aqui a Melinda Gordon (da série "Ghost Whisperer", que conduz espectros para a luz) mas assim até nem é preciso... se eles vão sozinhos!"

    A dupla de guardiões da ilha foi a maior surpresa, uma vez que esse foi o grande truque de Jacob para enganar o MIB, que até ficou surpreso por ter sido o Jack, na verdade um guardião temporário.
    Agora temos de esperar pela edição em DVD desta temporada para termos acesso ao extra especial onde teremos um vislumbre do que fizeram Hurley e Ben como guardiões da ilha.



    Obs: Só agora me lembrei de vir aqui ver o artigo, que me tinha escapado.

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  7. Obrigado! De facto não me quis afastar muito do formato "habitual", mas haverá pelo menos mais um post, possivelmente pela altura em que sair o DVD. :)

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  8. Não concordo com o ArmPaulo, não achei o artigo excessivamente descritivo, mas apaixonadamente descritivo. O seu conteúdo só reflecte a paixão que o autor nutriu ao visionar o episódio e isso nota-se no texto. Confesso que já aguardava com alguma ansiedade o artigo final do Telmo Couto sobre o último episódio da melhor série que vi até hoje. E só hoje o consegui ler e, como sempre, não me desiludiu. Telmo, obrigado pelo teu artigo e continua a escrever assim como o fazes. Nunca pensaste em escrever um romance? Talento não te falta. :)

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  9. Muito obrigado pelo elogio! Gosto bastante de escrever, mas não teria porte (ou imaginação) para um romance :)

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