terça-feira, 23 de novembro de 2010

Review: Haven - 1.ª temporada


A maioria das séries que envolvem um mistério principal andam com um sério problema na organização das suas prioridades. Passam 90% do tempo da série com stand-alones (episódios que não abordam a mitologia principal, mas sim a mitologia de apenas um episódio) e nos últimos 3 episódios recorrem a parte da resolução da questão principal, deixando sempre algo por revelar para que os espectadores fiquem com vontade de assistir à temporada seguinte. Por um lado compreende-se que basear uma série à volta de uma questão principal faz com que os espectadores não tenham vontade de ver um episódio aleatório se o apanharem na TV, pois não compreendem o que se passa. Contudo, pelo outro lado não conseguem manter uma audiência fixa, e os últimos episódios quase parecem uma recompensa ao estilo "agora, vocês que acompanharam a série toda, tomem lá um bocadinho daquilo que querem por serem bons espectadores".

Haven sofre desse mesmo mal e também de outros tantos. O argumento da série é baseado no livro de Stephen King "The Colorado Kid", que nos apresenta um mistério inicial com muitas perguntas e poucas respostas e que não se baseia na resolução do mistério, mas sim na forma de contar o que se passou e as várias implicações do modo de a contar. O problema é: como é que se faz disso uma série? A verdade é que The X-Files estipulou um critério de qualidade para o que se faz na área de acontecimentos estranhos e reuniu numa só série casos com explicação científica e explicação paranormal. Fringe optou pela variante da explicação científica. Haven enveredou pela paranormal e uma das coisas que mais confusão me fazia na série era o facto de que durante os dez primeiros episódios a personagem principal recusava lembrar-se que tudo o que acontecia naquela cidade era estranho e negava (e gozava com) as explicações paranormais até que a meio do episódio parecia lembrar-se que por lá havia a hipótese de haver algo fora do normal.


Falando então dos episódios em si, alguns deles, especialmente os iniciais, eram fracos. O elenco parecia ainda não ter encarnado bem a personagem, os argumentistas pareciam andar a tentar encontrar o verdadeiro rumo da série e a série não passava dos stand alones numa cidade onde acontecem coisas estranhas. Depois vieram os três episódios finais, em que finalmente percebemos que a série consegue ter um rumo relativamente interessante e até ficamos com vontade de ver a segunda temporada e esquecer que 90% dos episódios foram medianamente desinteressantes.

O elenco, não sendo extraordinário, não é terrível, destacando o actor Lucas Byant no papel de Nathan Wuornos especialmente pela sua capacidade de aparentar não conseguir sentir nada devido a uma teórica neuropatia idiopática. Emily Rose como Audrey Parker não fascina e Eric Balfour no papel de Duke poderia dar um pouco mais de si. As personagens mais cómicas são talvez as que vieram directamente do livro que deu origem à série, os dois jornalistas da cidade.


Haven não é uma má série, é uma série com o orçamento reduzido e mal trabalhada no seu início, mas que eventualmente poderá conquistar um papel nas séries de ficção científica desde que deixe de lado os episódios individuais e comece a trabalhar melhor a sua mitologia. A sua segunda temporada já foi confirmada e aguardo pela altura em que Haven tenha dias melhores.

2 comentários:

  1. Eu vou ser sincera.
    Gostei da série.
    Concordo que existiram alturas em que deixou um pouco a desejar.
    Mas vou ver a próxima temporada e esperar que me surpreenda pela positiva, pois tem bons personagens que podem dar boas histórias bem como a cidade que pode ser considerado um mistério só.

    Mais uma boa crítica Ana.
    Beijinho.

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  2. Eu até queria gostar da série, mas ora via casos muitos parecidos com alguns de Ficheiros Secretos ou ficava admirada com a resolução (confesso que odiei o segundo episódio, o que começa com a esfera metálica gigante a sair do sítio). Mas gostei dos últimos episódios e espero que vão por aí na próxima temporada e que pelo amor da santa a Audrey-seja-lá-ela-quem-for deixe de achar que há explicação científica para o que se passa naquela cidade.

    Obrigada :)

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