sábado, 23 de agosto de 2014

Os Putos, por Carlos Antunes



Título original: Les gamins
Realização: 
Argumento: Max BoublilNoé Debré e Mona Achache
Elenco: Alain ChabatMax BoublilSandrine Kiberlain


Apesar de serem na sua maioria comédias os filmes franceses que estreiam entre nós, a amostra não é suficiente para que conheçamos os novos temas e padrões do género.
Por isso é mais fácil enquadrar esta comédia segundo o imaginário que nos chega do outro lado do Atlântico.
Este filme insere-se na linha dos bromances que Judd Apatow iniciou e depois apadrinhou mas que parece agora ser o único a fazer evoluir.
Numa espécie de resumo do percurso do realizador americano, este filme junta as suas obsessões iniciais às suas preocupações actuais, mais especificamente, os problemas de transição para a idade adulta - e a falta de consciência dela - e o peso das responsabilidades familiares.
Com trinta anos, noivo e prestes a abdicar da carreira na música, Thomas cria uma empatia com o seu futuro sogro, Gilbert, encarando o vazio da sua própria vida depois de ter vendido a sua empresa e a reencarar o seu casamento como aquilo que lhe custou os seus sonhos de adolescência.
Entre os sonhos que um ainda quer viver e que o outro lhe diz saber que se vão perder, encontra-se uma forte afinidade mesmo com vintes anos de distância. Isso e o prazer dos dois pelo álbum Lust for Life de Iggy Pop.
Juntos vão-se rebelar contra as respectivas mulheres - símbolos da ditadura da mentalidade fechada - e experimentar tudo aquilo que nunca chegaram a experimentar.
Festas, modelos, videoclips, viagens. Todos os elementos daqueles sonhos vendidos à sociedade e que eles consomem avidamente até que se acaba o dinheiro a Gilbert e a inconsciência a Thomas.
Nos momentos dessa vida de sofreguidão, a comédia dá-se muitas vezes ao exagero, tentativa de ter elementos de uma comédia de enorme exagero juvenil - a paródia às estrelas adolescentes da música torna isso óbvio demais - em que o modelo parece mais o dos irmãos Farrelly do que o de Apatow.
A sorte do filme é ter Alain Chabat a dar à comédia uma ponderação que lhe vem da compreensão da sua personagem e da manutenção de uma dimensão humana para lá do clown.
Por mais promissor que sejam os talentos cómico de Max Boublil e os seus devaneios musicais, não fosse Chabat numa forma admirável e o filme desmoronava-se.
A verdadeira energia está do lado do veterano e os seus inspirados controlos dos tempos de comédia permitem que o seu contraponto tenha o suporte para se mostrar no seu melhor.
Faltou escrever para as mulheres do filme papéis equivalentes, algo mais do que libertinas por reacção à fuga dos seus homens.
Sobretudo para Sandrine Kiberlain, actriz de enorme talento e que parece ter sido chamada a fazer mais uma vez o papel de esposa um pouco tonta.
Apesar desta história de camaradagem ter muito de inspirado, não é certo que seja em França que melhor compreendam Apatow, pois se a relação entre os dois homens resulta muito bem, o filme rende-se no final à comédia romântica mais habitual.
O final feliz do reencontro dos homens com as razões pelas quais amavam as suas mulheres e, logo, com a sua vontade de permanecer casados é a forma previsível de terminar a história.
Nem aquela espécie de brincadeira caseira de um comediante stand-up com a tradução absurda do discurso do representante iraniano torna o final mais subversivo do que aquilo que parece: típico da comédia romântica.




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