sábado, 21 de novembro de 2015

Review: Grace and Frankie - Temporada 1

Por Joaquim da Silva.

«Tears Dry on Their Own»

São muitos anos. É crescer e aprender. Mais vale tarde do que nunca. Quando crianças, todos queremos ser adolescentes. E depois temos pressa de ser adultos. E depois, temos saudades de ser adolescentes outra vez. Mas ninguém anseia ser velho. Idoso. Reformado. Há muito mais quem procure a juventude eterna do que a tranquilidade da velhice. Desde sempre se procura incessantemente a imortalidade. A persistência da luta contra o tempo, da falta de tempo, da resistência à passagem dos dias, dos meses, dos anos, o desespero do reflexo enrugado, da erosão da beleza jovial. Ninguém é velho - velhos são os trapos, a idade é um estado de espírito - ser velho é algo semi-repugnante, rejeitado por todos (inclusive os velhos). Pois cabe-me dizer: Caríssimos, todos envelhecemos. Todos os que tiverem a sorte de viver mais que o seu igual serão inevitavelmente velhos. E como tudo o que é inevitável, eis que vem o habituar. Habituemo-nos à ideia, conforme é esperado. E quando não mais se pode esperar?

Grace and Frankie parte da premissa simples de que em 2015 é relativamente bem aceite e bem mais fácil sair do armário. Ser-se quem se é, é uma condição bem mais alcançável hoje do que há alguns - nem assim tantos - anos. Pois então Robert (Martin Sheen) e Sol (Sam Waterston), cônjuges das respectivas personagens titulares, também o sabem. E decidem que é hora de dizer a verdade, romper com os seus casamentos heterossexuais e assumir a paixão que os leva a manter uma relação secreta. Pedem o divórcio e decidem juntar-se. Ora, todos os dias isto deve acontecer em qualquer lado, até que é mais comum haver divórcios do que casamentos. Detalhe: todos eles enquadram-se na faixa etária 65+. Essa idade em que tudo está já designado, a vida é feita de conformes e de hábitos, de um desenrolar de rotinas na lenta espera pela morte.

Na mais requintada ironia, Grace (Jane Fonda) e Frankie (Lily Tomlin) são duas personalidades opostas: uma conservadora, que segue altos padrões de moral, ética e etiqueta, frequentadora dos melhores e mais altos níveis sociais, filantrópica e empreendedora. A outra, liberal, libertina, professora de arte de ex-reclusos, que nega algumas das convenções sociais mais antigas, progressista à frente do seu tempo. Veja-se, Frankie é mãe adoptiva de dois homens de raças diferentes, tendo-o feito numa presumível época em que a raça negra ainda era fortemente discriminada nos Estados Unidos. Como se o destruir das suas vidas matrimoniais não fosse um evento suficientemente traumático, ambas se refugiam na partilhada casa de praia dos casais (Robert e Sol são sócios de trabalho, pelo que existe uma relação anterior ao início da série entre Grace e Frankie). E é aqui que se inicia o processo de superação de duas mulheres, que nada mais têm que a si mesmas, uma à outra, e aos filhos, para viver algo que se vive aos 30 ou 40 anos de idade. Grace and Frankie lida com os problemas dos "jovens" da perspectiva dos "séniores": orientação sexual, aceitação social, reconstrução da vida amorosa, luto pela relação falhada, (re)inserção no mercado laboral.


Grace and Frankie é uma comédia de relações, amores e desamores, absolutamente igual a tantas outras. Só que em vez de falar de jovens, ou de jovens adultos, fala de seres humanos. Porque os velhos são seres humanos também, e o amor não escolhe idades. Morrer é parar, seja isso em que idade for.

P.S.: Brianna (June Diane Raphael), hilariante em todas as linhas de diálogo que tem. Mais foco e desenvolvimento desta personagem precisa-se, aligeira os momentos dramáticos mas não desvia a atenção do espectador do foco da trama. Robert, pelo contrário, é desinteressante e acessório, não faz diferença quase nenhuma, só serve para que as personagens principais iniciem a sua jornada em igualdade de circunstâncias. 

Netflix

Temporada 1

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